Homem de frases feitas e gazeteiro profissional, binômio que permitiu conquistar fortuna de forma lícita, João Agripino da Costa Doria Junior prometeu cumprir até o fim o mandato de prefeito da cidade de São Paulo, conquistado na eleição de 2016, mas renunciou ao cargo para concorrer ao governo paulista.
Na maior cidade brasileira, Doria falou muito, abusou dos discursos pomposos, mas fez pouco. Tanto é assim, que a capital dos paulistas está em estado de quase abandono, apesar dos vigorosos anúncios da Prefeitura. De fato, João Doria “fez muita espuma”, remetendo a memória dos mais antigos e experientes à campanha publicitária do finado sabão em pó Rinso, cujo slogan era “molho mais espumoso”.
Considerado “cristão novo” na política e no PSDB, Doria está disposto a tudo para ocupar o principal gabinete do Palácio dos Bandeirantes, mas a sequência da vida vem colocando armadilhas em seu caminho. Após desrespeitar decisão da Justiça que proibiu o uso do slogan “Acelera SP”, usado na campanha eleitoral, Doria acabou multado em R$ 200 mil. A decisão é da juíza Cynthia Tomé, da 6ª Vara da Fazenda Pública, que abriu nova ação civil pública contra o tucano, desta vez por improbidade administrativa.
Em despacho do dia 23 de maio, a magistrada afirma que João Doria ignorou decisão liminar que estabelecia pagamento de multa diária no valor de R$ 50 mil em caso de descumprimento da proibição do uso do slogan.
Cynthia Tomé dobrou o valor da multa diária, caso o ex-prefeito descumprisse novamente a decisão. “Considerando que o valor da multa imposta não foi suficiente para impedir a conduta, aumento o valor da multa diária para R$ 100 mil”, ressaltou a juíza no despacho.
A insistência de Doria em usar o “Acelera SP” vai contra a sua postura modorrenta e nada célere no escândalo de corrupção que mandou pelos ares a licitação da Parceria Público-Privada (PPP) da Iluminação Pública de São Paulo. A PPP foi suspensa por determinação da Justiça, após a revelação de gravações que apontam esquema de corrupção envolvendo o consórcio vencedor do processo licitatório.
João Doria não conquistou o status social e financeiro que todos conhecem porque é um inocente convicto e recorrente. Além de ser um ladino contumaz, Doria, na condição de prefeito da quarta maior cidade do planeta,tinha à disposição uma equipe de assessores diretos que o informava a respeito das notícias publicadas sobre sua gestão. E não foram poucas as reportagens que apontavam várias irregularidades no processo da PPP da Iluminação Pública.
Em outras palavras, João Doria sempre soube do escândalo que estava a fermentar no Departamento de Iluminação Pública de São Paulo (Ilume), mas nada fez para impedir a consumação de um crime que deve ser confirmado em breve pelo Ministério Público e pela Justiça. Com direito a mandar para a cadeia alguns dos envolvidos no esquema.
Se por um lado a memória do brasileiro é curta e preguiçosa, por outro a imprensa nacional só sabe existir à sombra de manchetes e escândalos, sem se preocupar com a relação entre os fatos, o que de forma simples e rápida revela quem são os políticos com vocação para a alarifagem.
Em suma, João Doria pode até convencer seus aduladores acerca do seu “bom-mocismo”, mas corre o sério risco de tropeçar nas urnas de outubro próximo. Até porque, índice de rejeição é tão importante ou mais quanto intenção de voto.