Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump é tão habilidoso em questões diplomáticas e política internacional quanto um orangotango em loja de cristais. Ou seja, é um estabanado que insiste em mostrar força, quando a incompetência fala mais alto.
Não é de hoje que o UCHO.INFO afirma que a Coreia do Norte aceitou, mais uma vez, ser massa de manobra dos governos chinês e russo, que nos bastidores operaram com precisão cirúrgica para encurralar Trump no âmbito da queda de braços com o sanguinário ditador Kim Jong-un.
Desde o começo deste ano, o embate entre Trump e Kim teve a temperatura elevada em diversas ocasiões, com direito a ameaças e ofensas de parte a parte, com o presidente norte-americano garantindo que Washington usaria “força e fúria” caso Pyongyang insistisse na continuidade do programa nuclear.
Bufão conhecido e acreditando ser o xerife do universo, Donald Trump cancelou o encontro com Kim, mas mudou de ideia depois de protagonizar algumas sandices diplomáticas nas últimas semanas. Depois de anunciar a saída dos EUA do acordo nuclear com Irã, Trump abriu caminho para o russo Vladimir Putin ganhar espaço no cenário internacional. Moscou não apenas é apoiador declarado do Irã, mas fornecedor de armas da Síria, com quem Washington não mantém boas relações, pelo contrário.
Por outro lado, Kim Jong-un mantém estreitos diálogos com Pequim, algo que acontece há décadas. O presidente chinês, Xi Jinping, tem os EUA como adversário no tabuleiro comercial planetário e sabe jogar com invejável maestria quando o assunto é política internacional.
Com a decisão de Trump de cancelar o encontro, bastaram duas reuniões secretas entre Xi e Kim nos últimos sessenta dias para que o norte-americano mudasse de ideia, talvez por orientação de assessores da Casa Branca.
Não bastassem as lambanças cometidas no cenário internacional – a mais recente foi a enxurrada de críticas disparada no domingo (10) contra os líderes dos países do G-7, aliados dos EUA –, Trump tornou-se refém do encontro com Kim Jong-un. Afinal, precisa retornar para casa e colocar na estante da diplomacia ianque algum troféu. Por isso o norte-americano atuou intensamente nos bastidores, nas últimas horas, para passar à opinião pública global a impressão de que o encontro com o Kim só ocorreu por sua causa.
Que Kim Jong-un é um ditador truculento e descontrolado todos sabem, mas sua vocação maior – herança deixada pelo avô Kim Il-sung e pelo pai Kim Jong-il – é ser fantoche de Pequim e Moscou, que nos últimos meses impuseram seguidos dribles a Trump. As ameaças de mandar o planeta pelos ares a partir de armas nucleares não são novidade quando se trata da Coreia do Norte. Desde o fim da Guerra das Coreias, Pyongyang sempre valeu-se desse subterfúgio para reforçar os cofres oficiais. E os adversários dos EUA se encarregam desses aportes financeiros, nem sempre oficiais.
O grande vencedor do encontro em Singapura, por enquanto, é o ditador norte-coreano, que conseguiu um feito inenarrável ao encontrar-se com Trump sem fazer qualquer concessão – o governo norte-coreano mantém mais de 200 mil pessoas em campos de concentração e de trabalho forçado, além de eliminar com facilidade e frieza os desafetos do regime local. E violação dos direitos humanos sequer entrou na pauta das prévias negociações bilaterais. O inesperado anúncio de ambos de que o encontro será um sucesso sinaliza que um acordo ainda dependerá de muitas questões.
O ponto alto dessa histórica reunião será um eventual acordo para sacramentar a paz na península coreana, começando pela desnuclearização da região. Mesmo assim, Kim Jong-un fará algumas concessões, como o abando do programa de mísseis de longo alcance, mas nem de longe aceitará todas as exigências de Washington. A se confirmar esse quadro, quem sai perdendo é o Japão, principal parceiro dos EUA na Ásia.