Ex-governador do mais importante estado da federação, Geraldo Alckmin não está a viver momentos de tranquilidade. Esse quase inferno astral decorre da decisão do tucano de ser candidato à Presidência da República. A questão não está na candidatura, mas na paralisia que toma conta de sua campanha, facilmente identificada nos números das recentes pesquisas eleitorais.
Assim como Geraldo Alckmin, o PSDB não atravessa mares calmos. Ao contrário, as águas revoltas estão manchadas pela lama da corrupção, que atingiu a legenda em diversos patamares. E que ninguém confunda crime de corrupção apenas com os desmandos identificados pela Operação Lava-Jato e seus desdobramentos.
Alckmin, que também foi alçado à mira dos investigadores, encontra-se cercado pela peçonha dos integrantes de um partido político que desde a fundação é embalado pela cizânia. Sem saber, por enquanto, como impulsionar a campanha ao Palácio do Planalto, o ex-governador vem sofrendo pressão para declarar oficial e publicamente apoio a João Agripino Doria Junior, candidato do PSDB ao governo paulista.
A resistência de Geraldo Alckmin em relação a essa declaração é compreensível, pois Doria há muito trabalha para ser o presidenciável da legenda. E engana-se quem pensa que o ex-prefeito paulistano desistiu do plano. Resumindo, Alckmin precisa admitir que na política dorme-se diuturnamente com o inimigo.
Gazeteiro profissional, o que lhe possibilitou amealhar honestamente considerável fortuna, João Doria continua creditando que é um gestor público por excelência, o que não é verdade. Quem circula pela capital paulista não demora a perceber o estado de abandono em que se encontra a maior cidade do País.
Com a confirmação da aliança entre PSDB, Democratas e PSD com vistas à disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o ex-governador tem sido cobrado por correligionários em relação ao apoio ao candidato do partido. A alegação dos tucanos é que com isso sua candidatura à Presidência da República também terá o apoio de ambos os partidos.
Esse discurso embalado pela chantagem político-eleitoral não convence, mas Geraldo Alckmin é capaz de render-se à pressão. A se confirmar esse cenário, o ex-governador arrastará para sua campanha alguns rumorosos escândalos protagonizados na gestão Doria: a gravíssima denúncia de corrupção no escopo da PPP da Iluminação Pública, a acusação de que assessores próximos recebiam propina da Eletropaulo, a formalização de contrato emergencial para o serviço de varrição pública e a cobrança de propina de ambulantes que trabalham no entorno de arenas esportivas.
No caso da PPP da Iluminação Pública, Doria acompanhou o escandaloso processo, sem ter tomado qualquer medida para evitar um escândalo. Isso permite concluir que Doria prevaricou. No caso da varrição das ruas e avenidas da cidade, um contrato emergencial foi firmado no final de 2017, mas ao longo de seis meses a Prefeitura de São Paulo não conseguiu elaborar um edital de concorrência. Diante disso, um novo contrato emergencial foi feito para evitar o pior. Esse detalhe sugere que a lerdeza das autoridades paulistanas foi proposital.
Resgatando tese publicada neste portal há alguns meses, Geraldo Alckmin deveria mandar o tucanato pelos ares e concorrer ao Senado Federal. Além de a eleição ser praticamente certa, o ex-governador se livraria dos muitos e graves problemas que esperam o próximo presidente eleito.