Vivendo intensa cizânia desde a sua fundação, em 25 de junho de 1988 – lá se vão trinta anos –, o PSDB, com o passar do tempo, deixou de ser um ninho tucano para transformar-se em um serpentário político, em que as víboras desfilam com punhos de renda diante das câmeras, mas nos bastidores protagonizam um festival de peçonha.
Acreditando na possibilidade de pacificar esse racha histórico, colocando água na fervura do tucanato, o ex-governador Geraldo Alckmin aceitou a árdua missão de presidir o partido, em substituição ao mineiro Aécio Neves, alcançado pela Operação Lava-Jato e atingido pela destruidora delação de Joesley Batista, um dos proprietários do grupo J&F.
Alckmin usou o fato de estar no comando do partido para lançar-se candidato à Presidência da República, mas seu plano tem enfrentado dificuldades para decolar – o que explica índices de intenções de votos abaixo de 8%. A campanha eleitoral propriamente dita ainda não começou, mas as dificuldades do ex-governador de São Paulo são discutidas dentro do PSDB há algum tempo.
Em dado momento, quando Geraldo Alckmin ainda não estava confirmado como pré-candidato à corrida presidencial, FHC, presidente de honra do partido, flertou publicamente com Luciano Huck, que acabou desistindo da empreitada política. Afinal, os rendimentos de Huck como apresentador não são desprezíveis, pelo contrário.
Na sequência, FHC começou a disparar salamaleques na direção do então prefeito da capital paulista, João Agripino da Costa Doria Junior, político considerado “cristão novo” e adepto do discurso fácil. Alckmin, experiente nas coxias tucanas, fez valer a força do cargo e escanteou Doria, que foi obrigado a se contentar com uma candidatura do Palácio dos Bandeirantes. Mesmo assim, o ex-prefeito não desistiu de concorrer à Presidência.
Tão logo as pré-campanhas começaram a dar os primeiros passos, o UCHO.INFO afirmou que o melhor para Geraldo Alckmin seria concorrer ao Senado, pois continuaria na cena política a reboque de uma eleição tida como certa. Porém, a vaidade falou mais alto e Alckmin é o pré-candidato do PSDB ao Planalto, mas não se sabe até quando.
FHC e o presidente Michel Temer, preocupados com a ausência de uma candidatura que consiga reunir o chamado “centrão”, articulam nos bastidores uma mudança movida pela traição explicita. Ambos trabalham para que João Doria substituta Alckmin na disputa presidencial.
Geraldo Alckmin, por sua vez, continua afirmando que é candidato, mas até agora não conseguiu empolgar os centristas, que aguardam o acontecimento de um milagre. Isso porque nenhum dos candidatos moderados aceitam assumir a vaga de vice, o que dificulta a montagem de uma chapa capaz de enfrentar a bizarra polarização que tomou conta do País.
No caso de a manobra de FHC e Temer prosperar, o PSDB será derrotado nas urnas de qualquer maneira, pois nas pesquisas sobre a disputa pelo governo paulista o tucano Doria ainda não assumiu a liderança, o que também preocupa o partido. O empresário Paulo Skaf, do MDB, que está à frente de Doria nas pesquisas, poderia concorrer ao cargo com o apoio do PSDB, enquanto o ex-prefeito entraria na corrida ao Palácio do Planalto com o apoio do emedebista.
Há na eventual candidatura de João Doria à Presidência algumas questões a serem consideradas. Na maior cidade brasileira, São Paulo, o eleitorado local não quer ouvir falar no nome de Doria, que ao longo de dezesseis meses à frente da Prefeitura paulistana fez quase nada.
Não obstante, em eventual mudança de cenário, o PSDB colocaria na disputa à Presidência da República um escândalo de corrupção que em breve terá novos e escaldantes capítulos. Trata-se do caso da PPP da Iluminação Pública, cujo contrato foi suspenso por conta de denúncias de corrupção envolvendo o consórcio vencedor (FM Rodrigues/Consladel).
De acordo com gravações divulgadas pela imprensa, a empresa líder do consórcio pagava propina a integrantes da Prefeitura de São Paulo para dificultar a vida do concorrente. João Doria, atento que é, sabia de detalhes do escândalo, mas nada fez para impedir a ousada transgressão. Limitou-se a demitir a diretoria do Departamento de Iluminação Pública do Município de São Paulo (Ilume), mas antes de deixar o cargo tratou de acertar a transferência do processo da PPP para a Secretaria das Prefeituras Regionais, comandada por Marcos Penido. Antes o processo licitatório estava sob o guarda-chuva da Secretaria de Serviços e Obras, com o mesmo Penido.