Trump e Putin abusam do falso “bom-mocismo” e negam interferência russa na eleição dos EUA

Apesar de o serviço de inteligência norte-americano afirmar o contrário, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a negar a ingerência da Rússia nas eleições de 2016, em entrevista ao lado do presidente russo, Vladimir Putin, nesta segunda-feira (16) em Helsinque, na Finlândia.

Segundo Trump, a investigação sobre a suposta interferência é “um desastre” para os Estados Unidos e “manteve distantes” Washington e Moscou. Putin, por sua vez, afirmou que a Rússia jamais interferiu nem pretende interferir em eleições americanas ou outros assuntos internos dos Estados Unidos.

Questionado se acredita nas suas agências de inteligência – que acusam a Rússia de ingerência – ou em Putin, Trump desconversou. “O presidente Putin diz que não foi a Rússia. Eu não vejo nenhum motivo para que tenha sido”, respondeu.

Vladimir Putin, por sua vez, afirmou que seu desejo pela vitória Trump na eleição se justifica pela proposta de “normalizar as relações com a Rússia”. O líder russo negou ter algum material comprometedor sobre Trump, lembrando que, na época em que esteve em Moscou, o atual presidente americano era somente um homem de negócios. “Eu nem sabia que ele estava em Moscou”, disse.

Donald Trump qualificou a reunião de mais de duas horas de um bom começo para todos. “Acredito que foi um bom princípio. É um começo muito, muito bom para todos”, disse o presidente dos EUA aos jornalistas no início de um almoço de trabalho, do qual participaram também ministros e assessores das duas delegações.

Já Putin afirmou que as conversações transcorreram numa “atmosfera franca e de trabalho” e foram “muitos exitosas e úteis”. Segundo ele, ambos concordaram em garantir a fronteira de Israel com a Síria com base no acordo de 1974.


A conversa entre os dois governantes, que estavam acompanhados apenas de seus intérpretes, começou às 14h10 (8h10 em Brasília) no Palácio Presidencial da capital finlandesa e durou duas horas e dez minutos, ou seja, 40 minutos mais do que o previsto.

Depois, Trump e Putin dirigiram-se para um almoço de trabalho com alguns de seus principais ministros e assessores, entre eles seus respectivos titulares do Exterior, Mike Pompeo e Serguei Lavrov. O presidente russo não fez declarações à imprensa ao começo do almoço, embora no início da reunião a sós com Trump tenha pedido que se falasse dos “pontos de tensão no mundo” sobre os quais as duas potências têm posturas diferentes.

Trump previu que desenvolveria uma relação “extraordinária” com Putin, porque ao seu julgamento “o mundo quer” que ambos tenham uma boa relação. “Realmente acredito que o mundo quer que tenhamos uma boa relação”, disse Trump a Putin no começo do encontro.

Falastrão contumaz, Donald Trump joga para a plateia de acordo com suas necessidades. E o faz com peculiar desfaçatez, como se a opinião pública global, exceto seus aduladores de plantão, não conhecesse a realidade dos fatos. Trump é movido por um coquetel que mescla truculência e estupidez, sempre servido na bandeja da beligerância farsesca.

Ciente de que fermentar pontos de atrito com Moscou é um péssimo negócio, Donald Trump tenta desviar a atenção dos seus críticos com anúncios marcados por um falso e nauseante “bom-mocismo”. Quem conhece a história desse bilionário bufão sabe que em breve o eleitor americano há de se arrepender de tê-lo colocado na Casa Branca. Se até mesmo no Partido Republicano o presidente enfrenta resistência sistemática em alguns setores, é porque há algo errado nessa epopeia.