Uma estudante brasileira foi assassinada a tiros na noite de segunda-feira no sul de Manágua, capital da Nicarágua, afirmou nesta terça-feira (24) o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina. O homicídio foi confirmado pelo governo brasileiro e ocorreu em meio a uma crise sociopolítica no país centro-americano, marcada por violentos protestos contra o presidente Daniel Ortega, que já fez mais de 350 mortos.
A pernambucana Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, morava no país há seis anos e cursava o último ano de Medicina na UAM. Segundo testemunhas, o carro onde ela estava foi metralhado a poucos metros de sua casa, localizado em bairro da capital nicaraguense onde vivem vários funcionários do governo. A brasileira foi atingida no peito.
Medina acusou grupos paramilitares, que estariam fazendo a segurança na região, pelo assassinato. “As forças paramilitares sentem que têm carta branca, que ninguém vai dizer nada a eles, ninguém vai fazer nada, eles sequestram e fazem batidas”, afirmou o reitor.
A polícia da Nicarágua negou que paramilitares estejam envolvidos na morte da brasileira. “Um segurança particular, em circunstâncias ainda não determinadas, fez disparos com uma arma de fogo, um dos quais a atingiu”, afirmaram as autoridades. O autor do disparo não foi identificado. A polícia disse ainda que um segurança está sendo investigado para o esclarecimento do caso.
Ao jornal “Folha de S. Paulo”, o pai de Raynéia, Ridevando Lima, e uma amiga da estudante afirmaram que ela não participou dos protestos contra Ortega.
Em nota, o Itamaraty condenou o assassinato da estudante e exigiu o esclarecimento do caso e a punição dos culpados. “O governo brasileiro recebeu com profunda indignação e condena a trágica morte ontem, 23 de julho, da cidadã brasileira Raynéia Gabrielle Lima, estudante de Medicina na Universidade Americana em Manágua, atingida por disparos em circunstâncias sobre as quais está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense”, destacou.
O Itamaraty repudiou “a perseguição de manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos” e pediu que o governo da Nicarágua garanta “o exercício dos direitos individuais e das liberdades públicas”.
Desde abril, a Nicarágua enfrenta uma série de protestos contra Ortega e vive a crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 1980, quando Ortega também foi presidente (1985-1990).
Os protestos contra Ortega e sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram em 18 de abril, quando a população passou a manifestar-se nas ruas contra as reformas fracassadas na área de segurança social e a exigir a renúncia do presidente. O governo respondeu às manifestações com violência. Desde então, mais de 350 pessoas foram mortas.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissariado da Organização da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos acusaram o governo da Nicarágua de praticar “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, possível tortura e detenções arbitrárias”.
Há onze anos no poder e enfrentando acusações de abuso e corrupção, Ortega nega envolvimento com grupos paramilitares e afirmou que não pretende renunciar.
Tensão diplomática
O Itamaraty chamou, para consultas, o embaixador brasileiro na Nicarágua, Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos. A decisão ocorreu após a morte Raynéia Gabielle Lima na capital Manágua.
Nesta terça-feira, a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Lorena Del Carmen, também foi convocada pelo governo brasileiro para prestar esclarecimentos. Ela esteve no Itamaraty em reunião com o subsecretário de América Central e Caribe, Paulo Estivallet.
Mais cedo, o governo brasileiro já havia manifestado indignação e exigido que autoridades nicaraguenses mobilizem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo assassinato da estudante.
No texto, o governo ainda condenou “o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança” e repudiou a perseguição a manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos. (Com agências internacionais)