Depois de muito tempo e seguidos tropeços e escândalos, alguns petistas graduados acabaram aperfeiçoando o ofício da encenação. Ex-chefe da Casa Civil (no primeiro governo Lula) e considerado um dos próceres do partido, José Dirceu tem abusado da representação quando o assunto é fazer o famoso jogo do “engana que eu gosto”.
Sem trabalhar desde que foi preso na Ação Penal 470 (Mensalão do PT) e tendo cumprido pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, onde mesmo atrás grades ganhou dinheiro à vontade, Dirceu manteve durante longos anos um estilo de vida de fazer inveja a milhões de brasileiros.
Na verdade, em 1º de dezembro de 2005 (quinta-feira), horas após ter o mandato de deputado federal cassado, José Dirceu disse, em entrevista coletiva concedida no plenário 13 do Setor de Comissões Permanentes da Câmara, que na segunda-feira subsequente retomaria a profissão de advogado porque precisava de recursos para honrar compromissos assumidos com as filhas (pensão alimentícia). Isso jamais aconteceu, porque Dirceu continuou se dedicando àquilo que o levou à prisão.
Com o avanço da Operação Lava-Jato, José Dirceu foi novamente flagrado em esquema de corrupção, desta vez de proporções estratosféricas, o que não surpreendeu aqueles que conhecem o modus operandi petista.
Condenado a 30 anos e 9 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, Dirceu passou temporada no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, até que, com a ajuda de um outrora subordinado, o ministro Dias Toffoli, do STF, conseguiu aguardar em liberdade o julgamento dos recursos contra a condenação, apesar da decisão do plenário da Corte que autoriza o cumprimento provisório da pena após sentença de segundo grau.
Muito estranhamente, o ex-comissário palaciano está a telefonar a amigos endinheirados com o claro objetivo de pedir doações financeiras para a campanha de reeleição do filho, o deputado federal Zeca Dirceu, do PT paranaense.
Esse gesto seria considerado normal não fosse um detalhe, não tão pequeno, que há muito vem sendo alvo de recorrentes matérias do UCHO.INFO. No âmbito da Operação Lava-Jato, José Dirceu é defendido por um dos mais caros e badalados criminalistas do País, cujos honorários, via de regra, ficam entre sete e oito dígitos, sem contar as verbas destinadas às despesas processuais e de viagem.
Ora, se José Dirceu está sem dinheiro, a ponto de não ter condições de ajudar o próprio filho na campanha à reeleição, é um contrassenso custear uma defesa que tem na proa um criminalista que cobra verdadeiras fortunas. Esse enredo foi mal redigido e em algum momento a verdade há de vir à tona.