MP de SP está com pressa para punir Alckmin, mas lento no escândalo da PPP da Iluminação de Doria

Um dia após prestar depoimento ao Ministério Público de São Paulo no âmbito de investigações sobre uso de caixa 2 nas campanhas de 2010 e 2014, fruto das delações premiadas de executivos da Odebrecht, o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, poderá ser alvo de duas ações antes do primeiro turno da corrida presidencial. Pelo menos essa é a avaliação de alguns promotores do MP paulista que acompanham o caso.

As investigações apuram se de fato existiu repasses no valor de R$ 10,3 milhões para as mencionadas campanhas, que, se comprovados, configura ato de improbidade administrativa, incorrendo em enriquecimento ilícito (auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício do cargo).

A grande questão é saber se o depoimento dos delatores está respaldado por provas, pois tornou-se comum no escopo da Operação Lava-Jato acusar a esmo, como aconteceu no caso do ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado, que primeiro levou a acusação ao Ministério Público Federal para em seguida correr atrás das provas. Como muitas das provas eram inconsistentes, foi orientado a gravar os que à época denunciava.

Não se trata de proteger esse ou aquele político, até porque não é o nosso papel, mas é preciso responsabilidade ao acusar sem o devido conjunto probatório ou até mesmo diante da fragilidade do mesmo. Em período eleitoral, o denuncismo sempre ganha espaço à sombra de interesses nada republicanos. Como afirmamos em matéria anterior, no caso de ficar comprovada a culpa de Alckmin, que a lei seja aplicada com o devido rigor a todos os envolvidos no caso, a qualquer tempo e sem privilégio algum.


Porém, chama a atenção a pressa do Ministério Público paulista em ingressar com ações contra Alckmin, ao mesmo tempo em que no mesmo MP encontra-se em ritmo escandalosamente lento a investigação sobre o escândalo da Parceria Público-Privada da Iluminação Pública de São Paulo. O que sugere que há algo fora do padrão no segundo caso.

Em relação à PPP da Iluminação, o contrato, no valor de R$ 7 bilhões por um período de vinte anos, foi suspenso por determinação da Justiça depois que gravações demonstraram a existência de um esquema de corrupção no Ilume para favorecer o consórcio vencedor – FM Rodrigues/Consladel.

As provas são contundentes e irrefutáveis, mas os envolvidos no escândalo ainda não foram punidos como manda a legislação vigente. Somente em um país decadente como o Brasil, movido pela corrupção e pelo desmando, é que uma empresa acusada de pagar propina a integrantes da administração paulistana continua prestando serviços à Prefeitura de São Paulo. Em qualquer país razoavelmente sério, com autoridades responsáveis e Justiça céleres, esses alarifes estariam atrás das grades.

O ex-prefeito de São Paulo, João Agripino da Costa Doria Junior, que é do mesmo partido de Geraldo Alckmin, o PSDB, sempre soube das ilegalidades que marcaram a condução do processo licitatório da PPP da Iluminação, mas, candidato ao Palácio dos Bandeirantes, continua percorrendo o mais importante estado da federação como se fosse o melhor e mais eficiente gestor do planeta.

O Ministério Público paulista poderia rever seus conceitos de celeridade e imprimir ao escândalo da PPP da Iluminação Pública o mesmo ritmo dado ao caso de Geraldo Alckmin. Ou será que cobrar isso é querer demais.