“Dieta paleolítica”, com baixo consumo de carboidratos, reduz expectativa de vida, aponta estudo

O consumo moderado de carboidratos favorece uma vida mais saudável e longa, segundo um estudo publicado na quinta-feira (16) na revista médica britânica The Lancet.

A pesquisa, liderada pela especialista em medicina cardiovascular Sara Seidelmann, do Hospital Brigham and Women, nos Estados Unidos, sugere que as dietas que substituem os carboidratos por proteínas ou gorduras devem ser evitadas, devido ao possível vínculo com “ciclos de vida mais curta”.

“Consumir carboidratos com moderação parece ser ótimo para a saúde e para ter uma vida mais longa”, ressalta o estudo.

O trabalho é publicado no momento em que a chamada dieta paleolítica ¬– que evita carboidratos em favor de proteína animal e gordura – vem se tornando popular na Europa e nos EUA.

Os defensores desse regime da “Idade da Pedra” argumentam que a rápida mudança de 10 mil anos atrás – com o estabelecimento da agricultura – para uma alimentação baseada em grãos, laticínios e alguns legumes não permitiu que o corpo humano tivesse tempo suficiente para se adaptar a alimentos ricos em carboidratos.

O estudo também destaca que a substituição deste tipo de alimento por carne bovina e de cordeiro, porco, frango ou queijo está relacionada com maiores índices de mortalidade. Já uma dieta rica em proteínas vegetais (como verduras, legumes e frutos secos) diminui o risco de mortalidade.

“As dietas baixas em carboidratos, em que estes são substituídos por proteínas ou gorduras, estão ganhando popularidade como uma forma saudável de perder peso”, diz Seidelmann. “No entanto, nossos dados sugerem que elas podem estar associadas a uma vida mais curta e não deveriam ser recomendadas.”

“Se uma pessoa decidir começar uma dieta com estas caraterísticas, pelo menos deve incluir mais proteínas vegetais, as quais promovem um envelhecimento saudável”, aconselha a especialista.


Os autores analisaram os hábitos alimentares de 15.428 adultos, de 45 a 64 anos de idade, de diversas origens socioeconômicas e procedentes de quatro comunidades americanas. Durante 25 anos, 6.283 dos participantes morreram.

Os pesquisadores observaram uma relação entre a baixa ingestão de carboidratos e a expectativa de vida. Aqueles que faziam dietas com pouca ingestão de carboidratos (menos de 40% das calorias) ou alta (mais de 70%) tiveram menor expectativa do que a de quem teve um consumo moderado (entre 50% e 55% das calorias).

Além disso, os pesquisadores estimaram que, a partir dos 50 anos, a expectativa média de vida foi de mais 33 anos para o grupo com uma ingestão moderada de carboidratos – quatro anos a mais que aqueles com consumo muito baixo de carboidratos e um ano a mais que aqueles com alto consumo.

Os autores do estudo ponderaram que, como as dietas só foram avaliadas no início do teste e depois de seis anos, os padrões dietéticos podem ter variado, o que afeta o nível de confiabilidade dos resultados.

Uma análise de registros médicos de outras 432 mil pessoas de estudos anteriores confirmou os resultados, que também estão alinhados com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Não há nada a se ganhar com a adesão de longo prazo a dietas pobres em carboidratos, ricas em gorduras e proteínas de origem animal”, avalia Ian Johnson, pesquisador nutricional do Instituto Quadram de Biociência, em Norwich, Inglaterra, comentando a pesquisa, da qual ele não participou.

Segundo ele, a qualidade do carboidrato, não apenas a quantidade, é importante. “A maior parte deve vir de alimentos vegetais ricos em fibras e grãos integrais, em vez de bebidas açucaradas ou alimentos industrializados ricos em açúcar.”

As fibras também ajudam a manter uma flora intestinal saudável, considerada fator importante para manter a saúde, evitando doenças. (Com agências internacionais)