Alckmin abusa do surrealismo ao dizer no JN que facção criminosa não controla presídios de São Paulo

Governar o mais importante e rico estado da federação, São Paulo, não é tarefa fácil, em especial pelos desafios, mas, no contraponto, a abundância de recursos pode minimizar a missão. Apesar dessa dualidade de situações, o governante não pode fugir à realidade dos fatos, mesmo após deixar o cargo.

Candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin repete o mesmo erro de todos os políticos quando questionado sobre temas delicados e que exigem transparência, algo perigoso em período de campanha, quando o excesso de sinceridade pode se transformar em haraquiri eleitoral.

Entrevistado nesta quarta-feira (29) pelos apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcellos, o candidato tucano, quando perguntado sobre a facção que atua nos presídios paulistas, disse que a tal organização criminosa (PCC) não controla as cadeias do estado.

Alckmin poderia, valendo-se de rodopios discursivos, passar ao largo da resposta, mas afirmar que a principal facção criminosa em atividade no País não controla os presídios de São Paulo é ignorar a capacidade de raciocínio da população.


O ex-governador sabe que o crime organizado manda e desmanda no sistema prisional paulista, mas por precaução eleitoral e cautela política preferiu não admitir o óbvio, pois provocaria um enorme estrago na própria campanha.

O enxadrismo eleitoral visando o segundo turno da corrida presidencial é tão complexo, que Alckmin evitou algumas repostas ou, então, optou por não causar constrangimentos nos bastidores políticos, onde costuma circular com certa desenvoltura e ainda é respeitado.

O ex-governador poderia ter respondido que o PCC é uma das heranças malditas deixadas pelo PMDB, que quando governava São Paulo ordenou a invasão do Complexo Penitenciário do Carandiru. O então governador Luiz Antonio Fleury Filho autorizou a invasão do presídio pela Polícia Militar, operação que terminou com a morte de 111 presos – esse é o número oficial de mortos.

Após o “Massacre do Carandiru”, os presos decidiram criar a facção que hoje domina os presídios paulistas e de alguns estados da federação, tendo expandido seus tentáculos para alguns países da América do Sul.

Como Geraldo Alckmin espera contar com o apoio do MDB em eventual segundo turno, colocar um possível aliado na fogueira da opinião pública antes da hora não é conveniente.