Com muito atraso, Lula concorda com troca de candidato, mas decisão pode não surtir efeito desejado

Lula tentou esticar a corda mantendo sua candidatura, mesmo ciente de sua inelegibilidade, e parte dessa sandice pode ter sido alimentada pela presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Helena Hoffmann, que continua inconformada com a decisão do ex-metalúrgico de ter escolhido Fernando Haddad como candidato a vice.

Gleisi, que sempre sonhou em chegar ao Palácio do Planalto, imaginou que sua proximidade com Lula seria uma espécie de passaporte para integrar a chapa petista que disputaria a Presidência da República nas eleições que se avizinham. Ao contrário, Lula, sabendo da limitação da sua pupila, preferiu Haddad, que é mais comedido em suas declarações e coerente nas atitudes.

Gostem ou não de Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo é mais afável do que a presidente do PT. Há quem diga que Haddad é tucano demais para conviver entre petistas. Na verdade, na opinião do editor do UCHO.INFO, que não tem qualquer parentesco com o quase presidenciável petista, seu maior problema é ser filiado ao PT.

Após conversar durante mais de cinco horas com Lula, na terça-feira (4), Fernando Haddad saiu do encontro com a promessa de que no próximo dia 11 o partido, cumprindo determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), anunciará a substituição de candidato em ato político a ser realizado em Curitiba, provavelmente nas proximidades da sede da Polícia Federal na capital paranaense, onde o ex-presidente cumpre pena de prisão (12 anos e 1 mês) por corrupção e lavagem de dinheiro.


Confirmada a mudança, o PT terá pouco mais de três semanas para percorrer o País e tentar provar a capacidade de Lula de transferir votos, o que até o momento ainda suscita dúvidas. Tanto é assim, que em muitos estados essa influência ainda não se fez presente nas pesquisas eleitorais no âmbito dos cargos majoritários (leia-se governadores e senadores).

Nos últimos dias, enquanto Lula articulava com seus advogados uma forma de garantir sua participação na corrida presidencial, a cúpula petista, mesmo enfrentando a resistência de alguns setores internos, discutiu a escolha de um substituto com discurso capaz de incendiar a militância. Essa hipótese foi considerada porque o partido teme que nas eleições vindouras o ocorra o mesmo que em 2016, quando a legenda sofreu considerável processo de encolhimento.

Inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, Lula é um respeitável cabo eleitoral, mas atrás das grades sua atuação é nula. Isso significa que se o PT quiser reverter o estrago, boa parte patrocinado pelo próprio Lula, terá de correr, e muito, com as próprias pernas. Do contrário, será obrigado a se reinventar a partir de um discurso longe do radicalismo esquerdista, que, é bom lembrar, há muito deixou de ter espaço na realidade contemporânea.