Quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a Península da Coreia estava livre das ameaças de Pyongyang, o UCHO.INFO afirmou que o mandatário norte-americano agia com precipitação ao fazer tal declaração, não sem antes externar seu amadorismo na seara das relações internacionais. Foi o suficiente para os radicais da direita verde-loura se levantarem contra este noticioso, mais uma vez, como se a estupidez de Trump não fosse conhecida e corriqueira.
Não demorou muito e a fanfarronice de Donald Trump acerca do suposto acordo com o ditador norte-coreano Kim Jong-un veio à tona, pois a história mostra que Pyongyang sempre agiu dessa maneira como forma de defender seus interesses, ao mesmo tempo em que mantém o país distante de possíveis invasões.
Deixar no ar a incerteza sobre o programa nuclear norte-coreano faz parte da estratégia política da China e da Rússia, que usam Pyongyang como peça importante no tabuleiro da política internacional. Em suma, a Coreia do Norte sempre foi e continua sendo massa de manobra de Pequim e de Moscou. E com isso garante o fornecimento de alguns produtos básicos para o país e boas quantidades de dinheiro para manter o mais fechado regime do planeta.
Depois do jogo de cena levado a cabo por Trump, a Casa Branca informou na segunda-feira (10) que planeja um segundo encontro entre o presidente dos EUA e o líder da Coreia do Norte, após Kim Jong-un ter enviado carta “muito cordial” ao americano sugerindo nova reunião.
O anúncio foi feito pela porta-voz do governo em Washington, Sarah Huckabee Sanders, na primeira coletiva de imprensa da Casa Branca em quase três semanas. “Foi uma carta muito cordial, muito positiva”, descreveu a funcionária.
De acordo com Sanders, a mensagem – que não será divulgada na íntegra – reiterou o “contínuo compromisso [do governo da Coreia do Norte] em se concentrar na desnuclearização” da Península Coreana.
“O objetivo principal da carta foi agendar outra reunião com o presidente, à qual estamos abertos e já estamos no processo de coordenação”, afirmou Sarah Sanders, acrescentando que essa é “mais uma prova do progresso” no relacionamento entre Washington e Pyongyang.
Considerando que Trump garantiu que o norte-coreano havia assumido o compromisso de abandonar o programa nuclear e que a paz havia retornado à Península da Coreia, a declaração da porta-voz da Casa Branca é marcada pelo nonsense.
No último domingo (9), houve um novo aceno a laços amistosos quando o presidente americano teceu elogios a Kim após uma parada militar norte-coreana, que, ao contrário de desfiles anteriores, não exibiu mísseis balísticos internacionais ou de médio alcance.
“Esta é uma grande e muito positiva declaração da Coreia Norte”, escreveu Trump no Twitter. “Obrigado ao líder Kim. Nós dois vamos provar que todos estão errados! Não há nada como um bom diálogo entre duas pessoas que se gostam. Muito melhor do que antes de eu assumir o cargo.”
Sanders também mencionou o desfile, em comemoração ao 70º aniversário da fundação do país, em sua coletiva de imprensa nesta segunda-feira. “A recente parada na Coreia do Norte, pela primeira vez, não foi sobre seu arsenal nuclear”, afirmou, descrevendo o ato como um “sinal de boa fé”.
Donald Trump jamais admitirá que foi enganado por Kim, por isso adota esse discurso embusteiro, como se o ditador norte-coreano fosse um poço de boas intenções. Kim Jong-un sabe que um ataque ao seu país seria um desastre para a região, assim como está certo de que países como China, Rússia e Japão reagiriam prontamente, mesmo que no campo diplomático. Isso dá a Pyongyang poder de barganha, o que ao final significa recursos financeiros.
Críticos, por outro lado, afirmam que o acordo firmado em Cingapura nada conquistou de concreto e que os progressos têm sido lentos. E agosto, a agência de energia atômica da ONU expressou “grande preocupação” com a continuidade e o desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano.
Apesar de ter prometido desnuclearizar a península, Pyongyang ainda não declarou publicamente sua disposição de abrir mão das armas desenvolvidas durante décadas, a um enorme custo político e financeiro. Imagens de satélite obtidas por agências americanas de inteligência em julho sugeriram que a Coreia do Norte continua construindo mísseis.
Enquanto isso, Trump usa sua conta no Twitter para vender a ideia de que é o maior e mais talentoso negociador político de todos os tempos. Quem conhece minimamente a história da Coreia do Norte consegue avaliar o papel ridículo que o presidente norte-americano vem fazendo.