Se os 25 dias que que restam para o primeiro turno das eleições representam quase nada em termos de tempo para Fernando Haddad tentar convencer o eleitorado de que é o melhor candidato para assumir o comando do País, a carta divulgada por Lula e lida no evento que oficializou a candidatura do ex-prefeito de São Paulo à Presidência da República pode ser um problema a mais na bagagem do petista.
Que Lula insistiu de maneira irresponsável na sua impossível candidatura porque não queria perder o protagonismo político todos sabem, mas uma das alegações para essa teimosia é que o PT precisava dessa estratégia para não sucumbir nas urnas, como forma de evitar o processo de desidratação que a legenda sofreu nas eleições municipais de 2016.
Em 2010, quando lançou Dilma Rousseff como candidata à sua sucessão, Lula acreditava piamente que participaria da corrida presidencial quatro anos mais tarde. Tanto é assim, que deixou no Palácio do Planalto pessoas de sua confiança para integrar o staff da “companheira”, que em 2014 o traiu ao descumprir acordo prévio.
O mesmo aconteceu quando Lula lançou Fernando Haddad como candidato à prefeitura de São Paulo. Na ocasião, o ex-metalúrgico gozava de elevados índices de popularidade e, vencida a eleição na maior cidade brasileira, passou a dar palpites na gestão de Haddad, como se esse fosse um reles emissário. O tempo passou e Lula foi alcançado pela Operação Lava-Jato, o que obrigou-o a se afastar dos afazeres políticos, dedicando-se à defesa e às desculpas.
Agora, fora da corrida presidencial por estar inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, Lula não teve outra saída, que não a de concordar com a oficialização de Haddad como candidato do PT à Presidência, mas é preciso reconhecer que o ex-presidente continua firme no propósito de manter o protagonismo, mesmo dentro da cela que ocupa na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Na carta lida durante evento que reuniu a militância, Lula mandou recados que não deixou dúvidas a respeito da sua desconfiança em relação ao futuro. “Estou indicando ao PT e à Coligação “O Povo Feliz de Novo” a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente.”
Ao usar “até este momento”, o petista-mor deixa claro que confia em Haddad, mas dá sinais de que está preparado para eventuais decepções e possíveis traições, inerentes ao exercício da política.
Em outro trecho da carta, Lula não esconde sua disposição para ingerir em eventual governo de Fernando Haddad, assim como fez no de Dilma Rousseff. “A nossa lealdade, minha, do Haddad e da Manuela, é com o povo em primeiro lugar. E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo e da esperança”, escreveu o ex-presidente.
Para estar junto com o Haddad, como sugeriu na carta, Lula precisa combinar com a Justiça, pois ele foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além disso, uma nova condenação está a caminho, podendo fazer com que o ex-metalúrgico permaneça mais alguns anos atrás das grades. De tal modo, Lula só poderá ingerir em eventual governo petista a partir da cela da PF.