Em nova “amarelada”, Bolsonaro envia carta ao decano do STF para amenizar estrago causado pelo filho

Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro “amarelou” novamente, desta vez na esteira da repercussão da declaração estapafúrdia de um dos seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que em palestra realizada em junho afirmou que para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) eram necessários apenas “um soldado e um cabo”.

Essencialmente golpista e com viés fascista, a declaração foi considerada inaceitável pelos ministros do STF, obrigando a cúpula da campanha a se movimentar rapidamente nos bastidores para evitar um estrago ainda maior. O ministro Alexandre de Moraes, em palestra a membros do Ministério Público paulista, defendeu a abertura de investigação por parte da Procuradoria-geral da República contra Eduardo Bolsonaro, com base na Lei de Segurança Nacional.

Que Eduardo Bolsonaro é um irresponsável metido a valete todos sabem, mas sua declaração foi um abre-alas para que um eventual governo do pai tenha problemas futuros na Corte. Isso fez com que Bolsonaro enviasse carta ao decano do STF, ministro Celso de Mello, colocando água na fervura, que não deve amainar tão cedo.

Na missiva, o presidenciável afirma que o STF é o “guardião da Constituição” e que “todos temos de prestigiar a Corte”. Sem fugir do script populista, Jair Bolsonaro abusou da vitimização na tentativa de sensibilizar o magistrado e, na carta, abordou temas como “angústias” e “ameaças” sofridas durante a campanha.

“Quero, por escrito, deixar claro que manifestações mais emocionais, ocorridas nestes últimos tempos, se mostram fruto da angústia e das ameaças sofridas neste processo eleitoral”, escreveu o candidato;

Quem conhece Bolsonaro e seu jeito estúpido de ser sabe que o conteúdo da carta endereçada ao ministro Celso de Mello não passa de um “pano quente” sobre um escândalo que tem todos os ingredientes para azedar de vez as relações entre um eventual futuro governo do presidenciável e a mais alta instância do Judiciário nacional.


A afirmação de Bolsonaro de que todos devem prestigiar a Corte é trêfega, pois os discursos do candidato apontam na direção oposta. Ao defender o aumento do número de ministros do STF de 11 para 21, Jair Bolsonaro deixou claro que não respeita a Corte e muito menos a Constituição.

De igual modo, o candidato demonstrou desrespeito ao Supremo quando, no domingo (21), afirmou que os esquerdistas terão de deixar o País ou acabarão na cadeia. O Brasil é uma democracia e a Constituição de 1988, em seu artigo 5º (Dos Direitos e Garantias fundamentais), inciso VIII, é clara ao estabelecer que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.

Isso posto, Jair Bolsonaro mais uma vez recorreu à falsidade ao afirmar na carta endereçada ao ministro Celso de Mello que respeita a Carta Magna. Sabe-se que o presidenciável acostumou-se a desafiar o Estado Democrático de Direito não apenas por convicções, mas porque esse comportamento transgressor tornou-se estratégia eleitoral para agradar seus seguidores, que não têm coragem para dizer aos ministros da Corte o que escrevem nas redes sociais ou vociferam nas ruas, no melhor estilo corajoso à distância.

No domingo (21), após os primeiros efeitos colaterais da estabanada declaração do filho, Bolsonaro afirmou “que se alguém falou em fechar o Supremo Tribunal Federal, precisa consultar um psiquiatra”. Talvez fosse o caso de encaminhar o filho para um especialista em problemas da psique, pois somente um descontrolado faz declaração tão absurda. Ademais, alguém com esse comportamento não pode exercer mandato parlamentar.

Com o recrudescimento da polêmica nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro disse mais cedo que já havia admoestado o filho. “Eu já adverti o garoto”, afirmou o candidato sobre o filho de 34 anos. “É meu filho. A responsabilidade é dele. Ele já se desculpou. Isso aconteceu há quatro meses. Ele aceitou responder a uma pergunta sem pé nem cabeça, e resolveu levar para o lado desse absurdo aí. Temos todo o respeito e consideração com os demais poderes, e o Judiciário obviamente é importante.”

Um cidadão de 34 anos, que até recentemente sonhava em presidir a Câmara dos Deputados, é tratado como garoto e alguém sai em sua defesa alegando que “ele aceitou responder a uma pergunta sem pé nem cabeça, e resolveu levar para o lado desse absurdo aí”.