No debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, transmitido pela TV Globo, o tucano João Agripino da Costa Doria Junior insiste em atropelar seu adversário, o governador Márcio França (PSB), ao mesmo tempo em que tenta passar ao eleitorado paulista a falsa impressão de que é um excelente gestor público, quando a realidade é outra.
Os paulistanos e quem frequenta a cidade de São Paulo com assiduidade sabem que Doria foi um fiasco como prefeito, mas no debate ele teima em “vender” a ideia de que, se eleito governador, fará uma “gestão para todos”. Diz o candidato do PSDB que para integrar a equipe do seu eventual governo “as pessoas precisam ser honestas”. Isso é o mínimo que se espera de qualquer governante, mas João Doria foge das respostas quando questionado sobre escândalos ocorridos noz quinze meses em que esteve à frente da Prefeitura de São Paulo.
Sempre abusado ao falar, como se a maioria das pessoas acreditasse no seu discurso visguento, Doria disse no debate que levará ao Palácio dos Bandeirantes um “modelo de gestão” e um “time de valor”. O ex-prefeito pode dizer o que quiser, até porque a Constituição Federal garante o direito à livre manifestação do pensamento, mas não pode querer que a população acredite em suas palavras.
João Doria ainda deve uma explicação minimamente convincente sobre o rumoroso escândalo de corrupção que obrigou a Justiça paulista a suspender o contrato da PPP de Iluminação Pública. Uma grave denúncia de corrupção levada ao Ministério Público de SP, envolvendo servidores do Ilume (Departamento de Iluminação Pública do Município de São Paulo), não deixou dúvidas a respeito de um esquema criminoso para favorecer o consórcio vencedor (FM Rodrigues/Consladel).
Durante o processo licitatório, inúmeras irregularidades ocorreram para, ao arrepio da lei, favorecer o consórcio vencedor, sem que Doria tivesse tomado qualquer providência para impedir os ilícitos. O tucano não pode negar que conhecia os fatos, pois as irregularidades foram amplamente noticiadas pela grande imprensa, sem qualquer manifestação de sua parte quando questionado sobre o tema.
Não obstante, o então secretário de Serviços e Obras, Marcos Penido, interferiu no processo de licitação e em e-mail deu a entender que Doria não apenas sabia da interferência, mas havia determinado o roteiro para beneficiar o mencionado consórcio.
Sobre as tais pessoas honestas para compor sua eventual equipe de governo, Doria simplesmente se calou diante de grave acusação de corrupção envolvendo Marcos Penido e Julio Semeghini, que assessoraram o tucano na Prefeitura paulistana. Na denúncia levada ao Ministério Público há uma gravação em que a ex-diretora do Ilume fala de maneira clara e incontestável “Penido e Semeghini recebem propina da Eletropaulo e todo mundo sabe”.
Com a divulgação do escândalo, o gabinete de João Doria correu para que a denunciante assinasse um documento pífio negando que tivesse interferido no processo de licitação da PPP da Iluminação Pública e que soubesse sobre o pagamento de propina a Marcos Penido e Julio Semeghini. À época, a Eletropaulo prometeu tomar providências, mas até agora nada foi esclarecido, pois não há interesse de esclarecer o assunto.
Em relação ao “time de valor” que João Doria mencionou no debate com França, o tucano, que diz ser um gestor por excelência, sequer sabe como foi montada a equipe responsável pela iluminação da quarta maior cidade do planeta. Essa equipe foi montada a partir de relacionamentos em redes sociais, sem que as pessoas se conhecessem pessoalmente.
No tocante à moralidade, assunto que Doria insiste em incluir nos seus discursos, a ex-primeira-dama paulista, Beatriz Doria, continua devendo uma explicação aos munícipes sobre o escândalo envolvendo o santuário do padre Marcelo.
Um e-mail entregue ao Ministério Público paulista revela que a Prefeitura de São Paulo realizou serviços de modernização da iluminação do palco do santuário Theotokos, comandado pelo popular padre Marcelo Rossi. Na verdade, o serviço foi executado pela empresa FM Rodrigues, que era responsável pela manutenção da iluminação da cidade e liderou o consórcio vencedor da PPP, cujo contrato no valor de R$ 7 bilhões foi suspenso por determinação da Justiça.
Bia Doria foi convocada pelo MP para depor na qualidade de testemunha e negou ter solicitado a instalação de equipamentos de iluminação na parte interna do templo do padre Marcelo. O depoimento da ex-primeira-dama é desmontado pelas declarações do técnico de iluminação do templo, Antonio Nunes de Miranda Sobrinho, que em junho disse aos promotores que a ex-primeira-dama deu ordem para instalar luzes de LED, um equipamento para efeitos e uma mesa para controlar a intensidade da iluminação.
A instalação das lâmpadas e dos equipamentos no templo Theotokos foi feita pela empresa FM Rodrigues, acusada de ter pago propina a servidores do Ilume para ser beneficiada no processo de licitação da PPP.