Se Bolsonaro quer de fato pacificar o País, o melhor a fazer é mandar um recado aos seus eleitores

Logo após a confirmação de sua vitória nas urnas, o presidente eleito Jair Bolsonaro falou em pacificação da sociedade, mas isso é algo que, se acontecer, demandará muito tempo e disposição dos principais envolvidos na peleia, os cidadãos contrapostos.

Desde o primeiro discurso de ódio lançado por Bolsonaro, o UCHO.INFO alertou de forma insistente para o perigo de uma estratégia que certamente dividiria a opinião pública, colocando ambos os lados em pé de guerra. Dizer que a eleição transcorreu de forma pacífica e democrática é querer fechar os olhos para a realidade.

O grande perigo da essência da campanha bolsonarista é que discurso odioso do agora eleito Jair Bolsonaro instalou-se no âmago dos seus seguidores, que ainda insistem em confrontar aqueles que têm opiniões divergentes, como se tudo o que pensam e defendem fosse a única baliza nacional.

É preciso ressaltar que Bolsonaro venceu a eleição, mas isso não lhe dá o título de dono do Brasil. Aliás, é importante lembrar que se o eleito conquistou os votos de 55.797.466 eleitores, outros 89.506.955 eleitores preferiram não votar no candidato do PSL. Desses que não apostaram em Bolsonaro, 47.040.859 votaram no petista Fernando Haddad, 2.486.591 votaram em branco, 8.608.088 votaram nulo e 31.371.417 não compareceram às urnas.


Ao contrário do que pregava insistentemente sua militância, que nos dois turnos o eleito venceria com 80% dos votos, Jair Bolsonaro saiu da eleição sem o “cheque em branco” que sonhava ter em mãos para fazer o que bem quisesse a partir de 1º de janeiro próximo. Como Deus é brasileiro – pelo menos é o que dizem os crédulos dotados de humor –, o resultado das urnas foi um recado na direção da parcimônia, sem a qual o horizonte há de ficar ainda mais carrancudo.

O que se percebe na primeira segunda-feira pós eleição é que o resultado das urnas não alterou o espírito belicoso da maioria das pessoas, em especial dos que garantiram o triunfo de Jair Bolsonaro. Em suma, ou tem-se a mesma opinião dos bolsonaristas – talvez seja o caso de rotulá-los como bolsopatas – ou o propalado armistício é mero devaneio. E continuam sobrando críticas rasteiras e desnecessárias a quem tem opiniões divergentes.

Ainda é cedo para pacifismo, é verdade, mas é necessário que os ânimos estejam amainados para que algo nessa seara seja factível. Se os brasileiros, como um todo, não aceitarem o contraditório e não respeitarem as diferenças, o resultado da intolerância será dos piores. E mais: é preciso que Bolsonaro aceite a ideia de que a oposição ao seu governo será dura e implacável.

Com a animosidade em alta, que tende a permanecer nesse patamar diante das críticas inevitáveis que o eleito sofrerá de agora em diante, é preciso cautela e diplomacia. O País escolheu o próximo presidente da República, não uma reencarnação de Messias, apesar de o eleito carregar esse nome. Errar faz parte da essência do homem, mas soberba com teimosia é prenúncio de ignorância.