Para quem despejou sobre o eleitorado nacional o discurso da moralização, Jair Bolsonaro é uma ode ao espanto, talvez seja uma homenagem tosca do dito popular “faça o que eu digo, não o que faço”. O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), sem qualquer cerimônia, nomeou para a equipe de transição Marcos Aurélio Carvalho, um dos donos da AM4, maior prestadora de serviços da sua candidatura ao Palácio do Planalto e envolvida no episódio dos disparos em massa de notícias falsas pelo Whatsapp revelado pelo jornal Folha de S.Paulo.
Com direito a remuneração de R$ 9.926,60 durante a transição, o dono da AM4 participou nesta segunda-feira (5), em Brasília, de reunião com os futuros ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Defesa, general Augusto Heleno, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
De acordo com nota enviada à Folha, Carvalho explicou que ajudará a equipe de transição na comunicação, aproveitando para esclarecer que as ações da sua empresa no âmbito da campanha de Bolsonaro foram regulares.
Documentos entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última terça-feira (30) mostram que a campanha de Bolsonaro teve gasto adicional de R$ 535 mil com a AM4 Brasil Inteligência Digital, que até o momento é a maior prestadora de serviços da campanha. Ao todo, a empresa faturou com a candidatura de Jair Bolsonaro R$ 650 mil.
Há algo errado nessa contabilidade de campanha, pois na última semana o agora presidente eleito afirmou que gastou R$ 1,5 milhão para sair vitorioso das urnas. Quem conhece minimamente a política nacional sabe que é impossível gastar tão pouco em uma corrida ao Palácio do Planalto, mesmo considerando que o jeito de fazer campanha tenha mudado desde as eleições de 2014.
É preciso que o TSE fique atento à prestação de contas da campanha de Jair Bolsonaro, pois não se tem notícia de que exista no País alguém com a receita do milagre da multiplicação.
A nomeação de Marcos Aurélio Carvalho como membro da equipe de transição causa estranheza, já que durante a campanha Bolsonaro não se preocupou com a comunicação. E não será agora que esse detalhe ganharia relevância. Se Bolsonaro exige cada vez mais dos seus assessores um silêncio quase obsequioso em relação a temas relacionados ao futuro governo, ter um profissional encarregado da comunicação é no mínimo um contrassenso.