Democracia e liberdade de imprensa são interdependentes. A vida é feita de escolhas. Essa é a nossa!

(*) Ucho Haddad

Desde a redemocratização, jamais viveu-se tempos tão estranhos no País. Em nome de uma mudança tosca e questionável, que acontecerá à sombra de um temeroso flerte com o retrocesso, defender o Estado Democrático de Direito é motivo para ataques dos mais distintos matizes. Isso porque a ordem do momento é baixar a cabeça e acreditar que pelo fato de todos estarem no mesmo barco é proibido criticar.

Antropólogo e ex-ministro da Educação, o genial e saudoso Darcy Ribeiro disse certa feita: “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”. Essa é a bandeira que carrega o UCHO.INFO em tempos sombrios, quando as liberdades são ameaçadas diuturnamente, com a complacência burra de uma sociedade preguiçosa em termos políticos.

Qualquer crítica ao presidente eleito Jair Bolsonaro é prontamente respondida com ofensas chulas e rasteiras, não sem antes ser rotulada como reação de quem foi derrotado na eleição ou está prestes a perder uma “boquinha”. Sem contar as sugestões esdrúxulas de mudança imediata para Cuba ou Venezuela, como se o comunismo fosse a nossa praia. No tocante às tais “boquinhas”, damo-nos o direito de dormir em berço esplêndido e com a consciência tranquila, pois recusamos todas as ofertas espúrias feitas ao longo dos anos.

Desde o primeiro turno das eleições, alertamos para a necessidade de propostas concretas para tirar o Brasil do atoleiro da crise, não importando quem saísse vencedor das urnas. Contudo, não será com a derrota imposta ao Partido dos Trabalhadores que a realidade nacional mudará de cenário. Governar uma nação complexa como a nossa vai além de dar vazão a uma picuinha ideológica, como a que Bolsonaro insiste em destacar em declarações tão sorrateiras quanto preocupantes.

O mantra entoado pelos bolsonaristas – talvez seja o caso de chamá-los de bolsopatas, pois está-se diante de uma adoração doentia – é idêntico ao dos petistas na era Lula: “Deixa o homem trabalhar”. Esse cântico que anestesia a consciência serve apenas e tão somente para impedir que a sociedade enxergue o óbvio, ou seja, perceba a aproximação do caos. A história se repete, sem que o cidadão perceba o “revival” da tragédia. De salvadores da pátria o inferno está lotado.

Não se trata de criticar Jair Bolsonaro por antecipação ou torcer para que o próximo governo fracasse, como afirmam nossos algozes, mas não é preciso porções extras de raciocínio para perceber que na esteira da toada que contemplamos a chance de êxito diminui com o passar do tempo. Basta um pensamento minimamente logico e cartesiano para chegar a tal conclusão.

De nada adianta falar em equipe de notáveis, se os ministeriáveis têm discursos que não coadunam com o pensamento conservador e estatizante do presidente eleito. E aquele cuja fala se encaixa no discurso do eleito, ou é submisso ou não sabe o que diz.

De nada adianta falar em respeito à Constituição, o que não passa de discurso para inglês ouvir, ao mesmo tempo em que atenta-se contra a liberdade e as minorias. É preciso sair da teoria e ingressar na seara da prática, deixando para trás o ranço ideológico que ainda domina o pensamento e as atitudes de Bolsonaro e seus quejandos. A Carta Magna é muito mais do que a lei máxima da nação, é a trincheira maior e mais segura da cidadania e da liberdade.

O UCHO.INFO faz jornalismo com base na realidade dos fatos, com direito à opinião, não faz jornalismo de encomenda para agradar uns e outros. Assim sempre fizemos, assim sempre faremos, gostem ou não os que se incomodam com a forma que escolhemos para levar adiante o ofício de informar. Se ao opinar, respeitando as balizas da lei, desapontamos os que cultivam o “vale tudo”, é porque estamos no caminho certo.

O UCHO.INFO defende incondicionalmente a democracia e o Estado Democrático de Direito, sem se curvar a ataques e outros badulaques intimidatórios. Democracia e liberdade de imprensa são interdependentes, uma não existe sem a outra. E disso jamais abriremos mão, mesmo que para manter-se nessa luta o preço seja excessivamente alto. A vida é feita de escolhas. Essa é a nossa!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.