Pouco tempo depois de o nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, ter sido anunciado como ministro da Educação no futuro governo Bolsonaro, a bancada evangélica no Congresso Nacional se rebelou. Parlamentares foram ao Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde trabalha a equipe do governo de transição, para informar ao deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que comandará a Casa Civil, que caso indicação de Mozart seja confirmada, o presidente eleito estará descumprindo um compromisso de campanha.
Primeiro presidente-executivo do “Todos pela Educação” e ex-secretário de Educação de Pernambuco, Mozart Ramos, que é graduado em Química, não se identifica com o Escola Sem Partido, plataforma defendida por Bolsonaro e pelos evangélicos, e não é contrário à chamada “ideologia de gênero”. Ambos os temas foram destacados pela bancada evangélica como empecilho.
Onyx Lorenzoni tentou acalmar os ânimos dos representantes da bancada evangélica que foram ao CCBB, alegando que a indicação não era assunto definitivo, declaração que causou constrangimento na outra ponta. Afinal, Mozart Neves Ramos foi de fato convidado pelo presidente eleito para assumir o Ministério da Educação e pretendia aceitar oficialmente o convite durante reunião na quinta-feira (22), em Brasília.
Como dizia em priscas eras o ex-governador Magalhães Pinto, de Minas Gerais: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. Dito e feito, o convite feito a Mozart deixou de ser tão firme e certo.
No início da noite desta quarta-feira (21), Bolsonaro usou sua conta no Twitter para informar que “até o presente momento não existe nome definido para dirigir o Ministério da Educação”. Muito estranhamente, até horas antes estava tudo definido e combinado, com direito a reunião entre ambos para o dia seguinte.
Na mesma toada, o Instituto Ayrton Senna divulgou nota desmentido a indicação do dirigente. “Diferentemente do que vem sendo publicado na imprensa, Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, não foi convidado pelo novo governo para assumir o Ministério da Educação.” A nota ressalta que Mozart participará nesta quinta-feira de “reunião técnica” com Jair Bolsonaro.
O recuo de Bolsonaro tem explicação política, até porque seu futuro governo precisará de largo apoio no Congresso Nacional para aprovar projetos de interesse do País, mas em termos éticos não tem justificativa. Trata-se de enorme desrespeito em relação ao convidado para ser ministro, que não pode ser transformado em joguete nas mãos de um presidente eleito que tem dificuldade para se impor.