Além de descumprir promessa de campanha, Bolsonaro erra ao poupar o réu confesso Onyx Lorenzoni

Há uma clara dicotomia no palavrório de Jair Bolsonaro, o presidente eleito, em relação aos assessores eventualmente flagrados em transgressões ou que se tornarem alvo de denúncias. Questionado por jornalistas nesta quarta-feira (5) sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar investigação preliminar para apurar suposto caixa 2 do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que comandará a Casa Civil da Presidência, Bolsonaro disse que havendo “denúncia robusta” usará sua caneta.

De chofre é preciso saber o que Jair Bolsonaro entende por “denúncia robusta”, pois o próprio Onyx admitiu ter recebido, através de caixa 2, dinheiro não contabilizado do grupo J&F, de propriedade dos empresários Joesley e Wesley Batista. O parlamentar, que é réu confesso, admitiu a transgressão em entrevista a uma emissora de rádio de Porto Alegre, alegando que tinha dívidas de campanha e precisava quitá-las. Além disso, Onyx afirmou que deveria ser punido, mas pediu desculpas. Como se isso fosse suficiente.

Responsável até recentemente pelas ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato, o ex-juiz Sérgio Moro disse que Lorenzoni tem “sua confiança pessoal”. “Onyx tem minha confiança pessoal. Sei do grande esforço que ele fez para aprovar as 10 medidas Contra a Corrupção”, declarou o futuro ministro da Justiça, que a um passo de estrear no Executivo parece ter mudado a régua para “julgar” os que infringem a lei.

Vice-presidente da República eleito, o general Hamilton Mourão (PRTB) disse, nesta quarta-feira (5), que Onyx Lorenzoni terá de deixar o governo caso seja comprovado seu envolvimento em irregularidades. A declaração foi feita quando o militar reformado foi questionado por jornalistas em Belo Horizonte.

Escalado para comandar, a partir de 1º de janeiro, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, o general Augusto Heleno falou sobre o assunto com a jornalista Andréia Sadi, da Globo News. Perguntado se a investigação preliminar autorizada pelo STF poderia comprometer a imagem do futuro governo, Heleno disse que não.


“Olha, não é elogiável. Mas não considero prejudicial. O próprio ministro disse que é uma boa oportunidade para se explicar, o presidente também falou. Agora, não é uma notícia alvissareira”, respondeu o futuro chefe do GSI.

Fato é que não há o que explicar, pois, como mencionado anteriormente, Onyx Lorenzoni é réu confesso. E como tal não deveria estar à frente da mais importante pasta de um governo cujo presidente foi eleito a reboque do discurso da moralização e da faxina na política nacional.

Mesmo antes de assumir, Bolsonaro deveria seguir o exemplo do saudoso Itamar Franco, que diante de denúncia contra o então chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, decidiu afastar o longevo amigo do posto, enquanto a Polícia Federal investigava o caso. Assim decidiu para preservar não apenas o próprio governo, mas também a biografia de Hargreaves. Após a PF concluir que nada havia de concreto contra o chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves reassumiu o posto mais forte do que antes.

Não se pode esquecer que em 21 de outubro passado, antes do segundo turno, em discurso transmitido por vido conferência para apoiadores que reuniram na Avenida Paulista, em São Paulo, Jair Bolsonaro disse: “Temos o melhor povo do mundo, a melhor terra do planeta, e vamos com essa nova classe política construir realmente aquilo que nós merecemos”. Será?

Analisando a sequência dos fatos, não é errado imaginar que ou Jair Bolsonaro não conseguirá cumprir à risca o que prometeu durante a campanha ou Onyx Lorenzoni sabe muito mais do que deveria.