(*) Ipojuca Pontes
O dramaturgo Nelson Rodrigues, que tinha horror aos comunistas (e é até hoje por eles antropofagicamente canibalizado), tinha lá suas frases lapidares. Uma delas: “O pior anão é o gigante que não pula”. Uma outra frase que ganhou perenidade: “Toda unanimidade é burra”. É o caso de Fernanda Montenegro, que virou unanimidade e é tratada pela mídia esquerdista amestrada e pela corporação artística – sempre correndo atrás do dinheiro dos cofres públicos e privilégios de toda natureza – como uma vestal da Roma Antiga. Ou melhor, era – agora não é mais.
Abaixo transcrevo, comprovando o fato, respostas de internautas contra um discurso da vestal pronunciado no programa “Domingão do Faustão”, o boquirroto garoto propaganda da TV Globo. Ei-las:
– Sra. Fernanda Montenegro, em seu discurso em defesa da “mamata” da Lei Rouanet, a senhora se referiu a internet como “terra de ninguém”, desmerecendo/desrespeitando os protestos dos contribuintes contra a FARRA dos artistas com o nosso dinheiro. Saiba a senhora que, quando esse governo corrupto desvia milhões do ICMS para patrocinar artistas riquinhos que, em troca dão apoio à corrupção institucionalizada, são os doentes que sofrem nas filas dos hospitais, por falta de recursos. Recursos esses que financiam os seus espetáculos, o seu luxo, o seu conforto.
– A Internet NÃO é “terra de ninguém”. É uma plataforma que democratizou a informação e deu voz ao povo.
– Graças à Internet o povo derrubou do poder uma organização criminosa (que os artistas PAGOS pela Lei Rouanet apoiavam). Graças à Internet hoje temos mais opções de mídia e a Globolixo deixou de manipular a mente de grande parte dos brasileiros.
– Os protestos da Internet são a voz do povo brasileiro. Vivemos numa democracia e nossas manifestações são legítimas. Então, nos respeite.
– Não queremos que o dinheiro dos nossos impostos financiem espetáculos tendo como conteúdo sexo/droga/violência, enquanto temos idosos e crianças morrendo sem assistência médica.
– Quanto à sua informação de que “não é corrupta”, eu DISCORDO. O movimento #EleNão sacramentou o APOIO dos artistas a esse governo sabidamente corrupto com sentença
condenatória de segunda instância. Nos respeite.
– Temos voz e votos. E unidos, vamos reformular a Lei Rouanet.
– Em tempo: Senhor Presidente Bolsonaro, nós, eleitores, queremos prestações de contas de todos “artistas” beneficiados pela Lei Rouanet.
– Juntos somos fortes! Juntos derrotamos o PT! Juntos mudaremos o Brasil!
As palavras dos indignados internautas, que exigem o devido respeito de Fernanda Montenegro, são mais que apropriadas, justas e verdadeiras. Com efeito, o “beautiful people” das corporações artísticas (há décadas dopados pela grana fácil de leis permissivas e pelos salamaleques da mídia global) perdeu por completo o senso da realidade.
Eles principiam por condenar a burguesia e a moral burguesa em seus dispendiosos empreendimentos, nas suas conversas e entrevistas, mas procuram ignorar o fato de que alimentam um dos piores traços desse grupo social: a hipocrisia. Vivem reclamando do sistema capitalista e do governo, falam em transformar o mundo, mas, na prática, não querem mudança alguma, condenam o “sistema” de pura indústria pois se servem dele e dele vivem (alguns à tripa-forra).
Agora, neste início de terceiro milênio, quando a nação vive uma das crises mais dramáticas de sua história, com 13 milhões de desempregados e mais de 42 milhões vegetando na informalidade; em que cerca de 60 mil brasileiros são assassinados anualmente por falta de condições para se manter o aparelho de segurança do Estado; em que mais de 100 mil pessoas (dados do IPEA, 2015) compõem o universo de drogados, alcoólatras e miseráveis a tomar as calçadas das nossas cidades; em que milhares e milhares de homens, mulheres, idosos e crianças se deslocam de hospital em hospital sem conseguir atendimento mínimo; em que 12 milhões de adolescentes e crianças (até quinze anos), segundo o IBGE, permanecem literalmente analfabetos por falta de escolas e professores; e em que 62 milhões de pessoas perderam o crédito por inadimplência – como considerar o vozerio de corporações que só pensam em arrancar mais dinheiro dos contribuintes, via isenções fiscais e benesses, para consecução de projetos individuais?
Sem dúvida, trata-se de uma escandalosa falta de respeito para com o País e sua imensa população desamparada (ou não).
A Lei Rouanet é filha bastarda da Lei Sarney, governante que foi apedrejado nas ruas do Rio de Janeiro e que Collor, enquanto candidato, prometeu encarcerar e não o fez quando eleito, cometendo, então, um Ato de Alta Traição contra o povo brasileiro.
Concedendo benesses como a Lei Rouanet, Lei do Audiovisual, Fundo Setorial do Audiovisual, Fundos da Loteria etc., além dos gastos de manutenção da pesada máquina burocrática do engajado Ministério da Cultura, o governo do permissivo Michel Temer (que está ameaçado de ser preso por corrupção logo após deixar o poder) torra mais de R$ 22 bilhões anuais com o dispendioso aparato.
Dá para aceitar uma sacanagem dessas?
PS – O que pessoas como Fernanda Montenegro não entendem é que a democrática plataforma da Internet mudou irreversivelmente o entendimento do Brasil e do mundo. E que o jornalismo ideológico praticado pelas organizações Globo – rádio, jornal e TV – é, hoje, motivo de descrédito e piada.
Voltaremos ao assunto.
(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.