Jair Bolsonaro comemora, sem qualquer disfarce, a prisão de Cesare Battisti em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, após ter escapado das autoridades brasileiras, na esteira de autorização de extradição assinada pelo ex-presidente Temer.
Enquanto isso, o chefe do Gabinete de Segurança institucional da Presidência (GSI), general reformado Augusto Heleno, presou-se ao reles serviço de dizer aos jornalistas que o presidente brasileiro não deseja “capitalizar a extradição” do terrorista italiano. A declaração é tão absurda, que nem mesmo o ser mais inocente do planeta acreditaria.
Por outro lado, disposto a estragar a festa de Bolsonaro, que já sonhava com a chegada do “troféu” em Brasília, o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte afirmou neste domingo (13) que Battisti seguirá direto da Bolívia para a Itália.
Em mensagem publicada no Facebook, Conte disse que Battisti chegará em Roma nas próximas horas, em voo direto de Santa Cruz de La Sierra, onde ele foi preso na madrugada deste domingo.
“Estamos satisfeitos com esse resultado que nosso país espera há muitos anos”, escreveu o premiê, agradecendo o presidente Jair Bolsonaro e as autoridades bolivianas.
De acordo com o ministro da Justiça italiano, Alfonso Bonafede, Battisti será encaminhado para um presídio nos arredores de Roma. Sua chegada é esperada para esta segunda-feira (14).
Na manhã deste domingo, o governo Bolsonaro, durante reunião de emergência, avaliou que o terrorista deveria retornar ao Brasil para, na sequência, ser extraditado à Itália. A avaliação, unânime, teve como base o fato de que a Itália e a Bolívia não têm tratado de extradição.
O Ministério do Interior italiano, comandado por Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita “Liga” e um dos homens fortes do governo, informou por meio da assessoria que, até o momento, o governo de Evo Morales “mais ajudou do que atrapalhou”.
O governo italiano temia a possibilidade de a Bolívia determinar a abertura de um processo de extradição de Cesare Battisti, o que retardaria o regresso do terrorista ao país europeu. O Ministério do Interior da Itália destacou no comunicado a boa vontade das autoridades bolivianas, que auxiliaram agentes brasileiros e italianos na prisão do terrorista.
Cesare Battisti foi condenado na Itália e deve pagar pelos crimes que cometeu. Desde a chegada do caso do terrorista ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu por sua extradição, mas deixou a palavra final a cargo do então presidente Lula, o UCHO.INFO sempre defendeu que Battisti não deveria permanecer no Brasil, mas que seu retorno à terra natal não poderia violar a legislação vigente no País.
As críticas a Jair Bolsonaro nem de longe têm cunho ideológico, até porque esse não é nosso papel, pelo contrário (já provamos isso nas denúncias contra o PT), mas ressaltam a obrigação de um presidente de manter a parcimônia inerente ao cargo. Até porque, a Presidência da República não é, nem mesmo em “delirium tremens”, reedição melhorada de um grêmio político em que se discute ideias e ideologias.
Se Bolsonaro sonha em ser a versão tropical de Donald Trump, o brasileiro que se prepare ou o presidente que caia na real. A brincadeira ianque do “xerife ianque” começa a dar sérios sinais de desgaste.