A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, sobreviveu nesta quarta-feira (16) a uma moção de desconfiança no Parlamento britânico, um dia depois de ter sofrido uma derrota histórica, na mesma Casa, referente ao acordo sobre o Brexit negociado por ela com a União Europeia (UE).
A vitória apertada desta quarta-feira, por 325 votos a 306, foi possível graças aos votos dos deputados do Partido Conservador, de May, e do aliado Partido Unionista Democrático (DUP), maior legenda da Irlanda do Norte e responsável pela manutenção da maioria parlamentar do governo.
“Esta Casa depositou sua confiança neste governo”, afirmou a primeira-ministra logo após a votação na Câmara dos Comuns. “Estou pronta para trabalhar com qualquer membro desta Casa para entregar o Brexit e garantir que esta Casa mantenha a confiança do povo britânico.”
A moção foi apresentada pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, que, no início dos debates nesta quarta-feira, pediu a May para “fazer a coisa certa e renunciar”, mencionando a “humilhante derrota” sofrida por ela no dia anterior.
Na terça-feira, os membros do Parlamento britânico rejeitaram, por 432 votos a 202, o acordo negociado por May com os líderes europeus sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, prevista para 29 de março deste ano. As críticas vieram de ambas as partes: tanto dos favoráveis aos Brexit, como dos que defendem a permanência do país no bloco europeu.
Mais de um terço dos parlamentares do próprio Partido Conservador – 118 de 317 – votou contra o acordo do Brexit, o que reforçou as críticas de Corbyn de que a primeira-ministra está liderando um “governo zumbi” e precisa deixar o cargo.
“Se um governo não consegue fazer passar sua legislação pelo Parlamento, ele deve pedir ao país um novo mandato”, afirmou ele mais cedo, sugerindo a convocação de novas eleições. “A premiê tem consistentemente alegado que seu acordo, decisivamente rejeitado, é bom para os negócios e para os trabalhadores britânicos. Ela não devia ter nada a temer ao ir à votação pelo povo.”
May, por sua vez, disse aos parlamentares, antes da votação, que uma nova eleição seria “a pior coisa a ser feita” neste momento. “Isso aprofundaria a divisão, quando precisamos de unidade; traria caos, quando precisamos de certeza; traria atraso, quando precisamos avançar.”
Em dezembro do ano passado, a premiê britânica já havia sobrevivido a uma moção de desconfiança, dessa vez interna entre os parlamentares de seu Partido Conservador. A votação, secreta, terminou com 200 votos a favor de May e 117 contrários.
Brexit: próximos passos
Com a derrota de seu acordo no Parlamento, mas permanecendo no cargo após a vitória desta quarta-feira, May tem até segunda para apresentar um plano alternativo para o Brexit – mas está cercada pela resistência interna do Partido Conservador e por suas próprias diretrizes e limites.
Após sobreviver à moção, a premiê convidou os líderes dos partidos no Parlamento a se reunirem com ela a partir desta quarta-feira, na tentativa de romper o impasse sobre o divórcio com o bloco europeu. “Temos a responsabilidade de identificar um caminho a seguir que possa garantir o apoio da Casa”, declarou.
“Para esse fim, propus uma série de reuniões entre parlamentares e representantes do governo ao longo dos próximos dias. E gostaria de convidar os líderes dos partidos parlamentares a se encontrarem comigo individualmente, e gostaria de começar essas reuniões hoje à noite.”
Após essas conversas, o mais provável é que a líder britânica volte a negociar com a União Europeia em busca de mais concessões. Caso seja bem-sucedida, ela poderia apresentar uma nova versão do acordo ao Parlamento britânico, que faria outra votação. Mas tal cenário é extremamente improvável, uma vez que Bruxelas insiste que o acordo não pode ser renegociado.
Caso falhe o “plano B” de May, então provavelmente as conversações prosseguirão com grupos transpartidários dentro da Câmara dos Comuns. No caso de um “plano C”, por exemplo, os deputados poderiam identificar, por meio de uma série de votações, para quais aspectos do Brexit existe uma maioria.
Outro cenário seria o Partido Trabalhista recorrer a um segundo referendo sobre o Brexit e buscar o apoio suficiente do lado governista, o que poderia reverter a decisão de 2016. No entanto, o tempo está correndo e ficando cada vez mais escasso.
Em carta ao governo britânico no início desta semana, líderes da União Europeia se disseram dispostos a estender o prazo para o Brexit, atualmente definido para 29 de março. May, contudo, tem se mostrado resistente a isso, mas pode ser forçada a fazê-lo. (Com agências internacionais)