Moro “amarela” e diz ser preciso entender razões da proposta do BC de não monitorar parentes de políticos

Quando o ministro Sérgio Moro decidiu deixar a magistratura para assumir cargo no governo do presidente Jair Bolsonaro, o UCHO.INFO afirmou que o então juiz da Operação Lava-Jato estava cometendo um grande equívoco, que só encontrava explicação na seara da vaidade. Dias após, integrantes do Ministério Público Federal, em conversa com o editor deste portal, reiteraram nosso entendimento, afirmando que Moro não demoraria muito para se arrepender.

Não precisou muito tempo para que fosse possível perceber que Sérgio Moro teria problemas como ministro da Justiça, apesar de parte da opinião pública, em especial os eleitores de Bolsonaro, acreditar que os problemas relacionados à corrupção seriam resolvidos facilmente com a chegada do ex-juiz à Esplanada dos Ministérios.

O primeiro problema no caminho de Moro foi o chefe da casa Civil, Onyx Lorenzoni, que assumiu publicamente ter recebido, por meio de caixa 2, dinheiro da JBS. Mesmo assim, o ministro da Justiça, que em tempos outros afirmou que caixa 2 é crime de corrupção, declarou que Onyx conta com sua confiança.

Não obstante, Lorenzoni é acusado de utilizar notas fiscais suspeitas para receber verba indenizatória da Câmara dos Deputados e de usar verba de gabinete para adquirir passagens aéreas para acompanhar Bolsonaro em suas viagens de campanha. O que é proibido. E Sérgio Moro não se manifestou sobre esses casos.

O governo vem sendo chacoalhado diariamente pelo escândalo capitaneado por Fabrício Queiroz, mas cujo protagonismo foi assumido nos últimos dias por Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo Rio de Janeiro e filho do presidente da República, mas o ministro continua calado.


Causa espécie o obsequioso silêncio do ministro, pois Flávio Bolsonaro depositou em sua conta bancária, de forma fracionada, R$ 96 mil. No livro “Crime de Lavagem de Dinheiro”, Sérgio Moro, na condição de autor, é implacável ao condenar essa prática: “Condutas dessa espécie visam evitar que as operações sejam comunicadas ao Coaf. A estruturação de transação com o fim de evitar uma comunicação ou sua identificação pelas autoridades é uma tipologia comum de lavagem de dinheiro”, escreveu Moro no livro lançado em 2010.

Em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, Moro defende uma tese que contraria o discurso de anos como magistrado. O ministro disse na Suíça, nesta quinta-feira (24), que “têm de ser avaliadas as razões da proposta” do Banco Central para excluir parentes de políticos do monitoramento de instituições financeiras.

Há uma semana, o Banco Central abriu consulta pública sobre o tema, o que contraria o mantra moralizador adotado por Bolsonaro durante a campanha. Desde 2009, pessoas próximas a políticos têm suas transações acompanhadas de perto por bancos para evitar eventuais crimes, como, por exemplo, lavagem de dinheiro, a partir de recursos do Estado.

“É só uma consulta pública, e não uma decisão final. Vamos ver como o governo vai se posicionar”, afirmou Moro, que na tarde desta quinta-feira participa em Davos de painel sobre combate transnacional a atividades financeiras ilícitas.

A postura de Sérgio desde que tornou-se ministro não é a mesma do juiz da Lava-Jato. Logo no primeiro dia do governo, Bolsonaro editou um decreto engessando e limitando as atividades do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), órgão que agora está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça, mas Moro sequer reagiu a essa arbitrariedade. Em outras palavras, já recorrendo ao jargão popular, Moro “amarelou”. Resta saber por quanto tempo ele suportará o vexame imposto por um governo que é mais do mesmo.