Desde as primeiras horas após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), o governo de Jair Bolsonaro tenta se desvencilhar da responsabilidade pela tragédia que em número de mortos supera com folga a de Mariana, ocorrida em 5 de novembro de 2015, que devastou o distrito de Bento Rodrigues.
O presidente da República e o vice Hamilton Mourão afirmaram logo nas primeiras declarações que o governo tem menos de um mês e por isso não pode ser responsabilizado pela tragédia. Em termos de fiscalização dos órgãos federais, o governo atual nada tem a ver com o episódio, mas é preciso lembrar que Bolsonaro disse durante a campanha presidencial que, se eleito, acabaria com a “velha política”. O presidente afirmou também que no seu governo não teria o famoso escambo, a troca de cargos por apoio.
Depois de 28 anos na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro deveria no mínimo ter deixado o Parlamento levando na bagagem malícia política, algo que até o momento não demonstrou. No momento em que decreta o fim do escambo, Bolsonaro simplesmente inviabiliza o próprio governo. Não se trata de defender essa prática danosa adotada pelos políticos a partir da tese do presidencialismo de coalizão, mas de encarar a realidade como de fato é.
A suposta esperteza política do presidente da República parece estar com o prazo vencido, pois o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, acomodou na pasta o ainda deputado federal Leonardo Quintão (MDB-MG), que fracassou na sua tentativa de reeleição.
Quintão, que de tolo nada tem, tentou abocanhar o Ministério de Minas e Energia na esteira de indicação da bancada evangélica, mas acabou ignorado por Bolsonaro, que preferiu nomear Bento Albuquerque para comandar a pasta.
Para quem não conhece os bastidores da política nacional, Leonardo Quintão, que no Congresso Nacional é conhecido como “menino da Vale”, é lobista do setor de mineração no Parlamento. Como seu mandato de deputado termina na próximo quinta-feira (31), Quintão espera assumir oficialmente o cargo de secretário para Assuntos Parlamentares da Casa Civil no dia 1º de fevereiro, caso nada de errado aconteça até lá.
No momento em que tenta escapar da lama da tragédia de Brumadinho, o governo Bolsonaro tem um lobista da Vale atuando no Palácio do Planalto. Para piorar, Leonardo Quintão tem despachado na Casa Civil, com a incumbência de negociar cargos em troca de votos contra Renan Calheiros, que tenta voltar à presidência do Senado.
Considerando que Bolsonaro garantiu com todas as letras que em seu governo não haveria troca de cargos por apoio ou votos, a atuação de Quintão é no mínimo estranha. Se os ministros palacianos quiserem desmentir o UCHO.INFO, podem tentar, mas lembramos que o editor tem a seu favor o relato de uma testemunha que na última semana esteve no Palácio do Planalto e presenciou Leonardo Quintão negociando cargos com uma romaria de parlamentares.