Culpados por tragédia de Brumadinho devem ser punidos, mas diretoria da ANM não pode sair impune

Presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), o recifense José Múcio Monteiro Filho, um dos mais hábeis políticos brasileiros, anunciou que o órgão fiscalizará de agora em diante as atividades da Agência Nacional de Mineração (ANM), com base nas muitas estripulias do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) ocorridas nos últimos e que foram alvo de diversas denúncias do UCHO.INFO.

A decisão do presidente do TCU, tomada após a tragédia de Brumadinho (MG), não apenas confirma as denúncias feitas por este portal sobre os desmandos no escopo do DNPM, mas referenda o jornalismo sério e imparcial que fazemos há anos, mas que nos últimos meses vem sendo questionado e atacado de maneira torpe e covarde pelos defensores do governo de Jair Bolsonaro.

Não importa se as denúncias tinham no pano de fundo políticos que se contrapõem aos atuais ocupantes do Palácio do Planalto, pois essencial é que o nosso jornalismo segue o que alguns jornalistas da chamada “velha guarda”, sem explicações, decidiram jogar no lixo: ética, compromisso com a verdade e coerência acima de tudo.

Quando denunciamos os muitos “esquemas” que estavam a rodar no DNPM e a escandalosa ingerência do setor de mineração – em especial da Vale – no extinto órgão, não fizemos em busca de audiência ou de maior número de leitores, mas para interromper uma avalanche criminosa que, tivesse sido contida a tempo, poderia ter evitado a tragédia que mais uma vez coloca Minas Gerais no noticiário internacional.


Causa espécie o comportamento da grande imprensa, que agora, como paladina da verdade suprema, apodera-se do que noticiamos no passado, sem ao menos citar a fonte ou fazer a devida menção. Mas assim caminha a ética jornalística nessa república bananeira chamada Brasil.

É importante ressaltar que o setor da mineração movimenta verdadeiras fortunas no País e, portanto, existem “gordas” e cobiçadas verbas publicitárias nos orçamentos das principais empresas do segmento, começando pela própria Vale, que usa tais recursos como instrumento de persuasão (sic). E no capitalismo, entre a manter coerência e salvar a galinha dos ovos de ouro, normalmente prevalece a segunda opção. O que de normal nada tem, mas é comum.

Esse comportamento dúbio e estranho dos meios de comunicação em breve deverá se sobrepor às muitas contestações que dominam o noticiário no momento, dando lugar a um silêncio quase obsequioso. Prova disso é que não se fala do repentino sumiço dos diretores da Agência Nacional de Mineração, que deveriam estar em campo para dar explicações à opinião pública e cobrar os responsáveis pela tragédia. Como há na seara da ANM um conluio espúrio entre fiscalizadores e fiscalizados, esperar que isso ocorra é sonhar com o impossível.

Em gravação obtida com exclusividade pelo UCHO.INFO, Vicente Lobo, ex-secretário de Geologia do Ministério de Minas e Energia na gestão Temer e ex-diretor da Vale Fertilizantes, comemora a indicação dos membros da diretoria da ANM, com “idoneidade e capacidade técnica”. Pelo visto, a aludida idoneidade foi levada pela lama tóxica da barragem de Brumadinho.

A democracia brasileira existe debaixo do Estado de Direito, por isso ninguém deve ser levado ao cadafalso da culpa sem a necessária investigação, o devido processo legal e o amplo direito de defesa, mas é importante que os responsáveis sejam punidos, pois da tragédia de Mariana ninguém mais se recorda, exceto as vítimas.