Como sempre afirma o UCHO.INFO, cobrar coerência da classe política brasileira é tarefa hercúlea, talvez seja missão impossível. Mesmo assim, em algumas situações é preciso que o político não exceda em suas declarações, principalmente se o passado não lhe é favorável.
Jair Bolsonaro não pode ser considerado um primor quando o assunto é coerência. Em 2005, o agora presidente da República fez um discurso no plenário da Câmara dos Deputados em defesa de Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como “Urso Polar”, ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Na última terça-feira (25), Nóbrega foi apontado pelo Ministério Público fluminense como chefe da milícia do bairro de Rio das Pedras, na Zona Oeste carioca, e articulador do Escritório do Crime – maior grupo de matadores de aluguel do Rio de Janeiro.
Dias antes do discurso de Bolsonaro na Câmara, Adriano Nóbrega havia sido condenado por homicídio, mas o então parlamentar classificou-o como “brilhante oficial”.
Nesta segunda-feira (4), em mensagem enviada ao Congresso Nacional, lida na abertura do ano legislativo, Jair Bolsonaro declarou guerra ao crime organizado, o que inclui também as milícias que atuam deliberadamente no Rio de Janeiro.
“O Governo brasileiro declara guerra ao crime organizado. Guerra moral, guerra jurídica, guerra de combate. Não temos pena e nem medo de criminoso. A eles sejam dadas as garantias da lei e que tais leis sejam mais duras. Nosso governo já está trabalhando nessa direção”, escreveu Bolsonaro na mensagem enviada ao Congresso.
Apenas para ressaltar a fala dicotômica de Bolsonaro, em agosto de 2003 o agora presidente usou a tribuna da Câmara para exaltar um grupo de extermínio que aterrorizava a Bahia. Na ocasião, o capitão reformado afirmou que o esquadrão da morte teria seu apoio se resolvesse se instalar no Rio de Janeiro.
“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”, afirmou Bolsonaro.
Não obstante, para contrastar com a mensagem enviada ao Congresso, o presidente da República se vê às voltas com o escândalo envolvendo dum dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que enquanto deputado estadual empregou, em seu gabinete na Alerj, Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, respectivamente mãe e esposa do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, que teve mandado de prisão expedido na Operação Intocáveis e é considerado foragido pela Justiça.