Presidente da República, Jair Bolsonaro, que publicamente já admitiu que é um néscio em economia, não escreve sentado o que fala em pé, e vice-versa. Logo após se instalar no Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou que o projeto de reforma da Previdência que o governo enviaria ao Congresso teria como idade mínima para aposentadoria 57 anos para mulheres e 62 para homens.
Entre aquilo que Bolsonaro anuncia e o que a equipe econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes, decide há sempre uma considerável e preocupante diferença, pois o primeiro não entende do assunto, enquanto o segundo é um teórico continua que continua movendo-se na seara da soberba. Quem “salva a pátria” é Mansueto Almeida, secretário do Tesouro e especialista em contas públicas.
O texto da reforma da Previdência que será enviado ao Congresso dias antes do Carnaval prevê idade mínima para aposentadoria 62 anos para mulheres e 65 para homens. Mesmo assim, a economia projetada por Paulo Guedes para um período de dez anos, na casa de R$ 1 trilhão, está sendo considerada exagerada. Isso porque no Parlamento o texto sofrerá cortes, caso o Palácio do Planalto queira de fato aprovar o projeto até o final deste ano.
Considerando que modificações no texto do projeto da reforma da Previdência são inevitáveis, especialistas já consideram que a economia com a medida, se aprovada, será de aproximadamente R$ 500 bilhões ao longo de dez anos. Ou seja, metade do que previu Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, que em Davos, na Suíça, chegou a falar em R$ 1,3 trilhão.
Exigir coerência de qualquer político no Brasil é tarefa hercúlea, talvez seja missão impossível. E nesse quesito Jair Bolsonaro não foge à regra. Quando ainda era pré-candidato à Presidência, portanto abusando à vontade do populismo barato, o agora presidente disse, em 2017, que “querer aprovar uma reforma [da Previdência] com 65 anos é no mínimo falta de humanidade”. É preciso saber se Bolsonaro mudou seu conceito acerca de humanidade ou o ministro da Economia o convenceu em relação à proposta atual.
No tempo em que atirava pedra na vidraça política alheia, Jair Bolsonaro, ainda em 2017, criticou duramente a proposta de reforma da Previdência enviada ao Congresso pelo então presidente Michel Temer, que estipulava 65 anos como idade mínima para a aposentadoria. Como mostra o vídeo abaixo, Bolsonaro, além de chamar a reforma proposta por Temer de “porcaria”, disse que o projeto não seria aprovado por causa dos “65 anos” e daria munição ao PT em 2018.
Que Jair Bolsonaro não entende de política já ficou comprovado em poucas semanas de Palácio do Planalto, mas o espetáculo de incoerência que o presidente vem protagonizando é simplesmente vexatório. É preciso que o chefe do Executivo dirija-se aos brasileiros com urgência para explicar essa mudança repentina de opinião, antes que o PT reforce o estoque de munição e comece a dificultar a aprovação da proposta que ainda não chegou ao Congresso.
E que nenhum adorador do presidente venha com o discurso boquirroto de que torcemos contra ou que para nós “quanto pior, melhor”, pois o pior inimigo de Jair Bolsonaro é ele mesmo, com a imprescindível ajuda da prole.