Quando o UCHO.INFO afirmou, antes de Jair Bolsonaro assumir como presidente da República, que governar é a arte do diálogo e da negociação, muitos dos devotos do capitão reformado do Exército nos acusaram de torcer contra, como se isso fosse a verdade suprema.
Diferentemente do que afirmaram os especialistas de ocasião, não é dessa maneira que a política nacional funciona, assim como não terá seu ritmo alterado apenas porque Bolsonaro, um despreparado confesso, assim deseja. Imaginar que o Congresso Nacional se colocará de joelhos por causa da pressão da opinião pública é passar recibo de inocência, mas o presidente continua apostando nessa fórmula suicida.
Ainda devendo à população explicações didáticas sobre a reforma da Previdência, Jair Bolsonaro insiste em aprovar a respectiva PEC sem ao menos construir uma base de apoio no Congresso que garanta os votos necessários para referendar a matéria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Teimando em não ceder à pressão dos partidos aliados por cargos, pois acredita que base de apoio é algo que conquista-se gratuitamente e com discurso barato, Bolsonaro começa a enfrentar a resistência dos parlamentares, que iniciaram a formação de uma frente contra a reforma da Previdência. Ou seja, o que já era difícil tornou-se pior.
Para dificultar a situação, deputados e senadores oposicionistas e de partidos de centro lançaram nesta quarta-feira (20) a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social. O grupo é contrário à PEC da Previdência, mas, de acordo com os coordenadores, será apresentada proposta de alteração das regras para aposentadoria que possa ser discutida como alternativa ao projeto do governo.
“A reforma, como está, não interessa a ninguém a não ser ao mercado financeiro. […] O povo brasileiro não quer essa reforma porque o que está sendo proposto para a capitalização é o fim da previdência. Ataca inclusive a seguridade. Queremos fortalecer a Constituição que defende um pacto social”, afirmou o senador Paulo Paim (PT-RS), um dos coordenadores da frente.
Na opinião de Paim, o texto enviado pelo governo “desmonta o projeto social” construído ao longo dos últimos anos no Brasil. “Ninguém fez um desmonte como esse”, disse o senador petista. De acordo com Paulo Paim, integrantes da frente viajarão nas próximas semanas para discutir a reforma da Previdência com lideranças estaduais.
O lançamento ocorreu na manhã desta quarta-feira na Câmara dos Deputados e contou com mais de 171 assinaturas de deputados e de 27 senadores, mas são esperadas novas adesões, o que deve piorar a situação do governo, que para aprovar a matéria precisa de três quintos dos votos dos parlamentares de cada Casa legislativa.
“A gente não quer só ser do contra. Sabemos que é importante discutir a Previdência, mas de outra forma. Precisamos de uma alternativa a essa proposta que é tão maléfica para a base da nossa sociedade”, afirmou o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE). O partido fechou questão contra a proposta de Bolsonaro.