No estilo bobo da corte, Bolsonaro diz que não falou em “comemorar” o 31 de março, mas em “rememorar”

Que Jair Bolsonaro é uma figura grotesca, que só sobreviveu politicamente por conta das polêmicas que protagonizou ao longo das últimas décadas, quem acompanha o cotidiano do Parlamento federal está cansado de saber. Novidade, porém, é a porção covarde e mitômana do presidente da República, que passou a adotar recuos escandalosos para justificar decisões pífias e absurdas.

Depois de determinar ao Ministério da Defesa que no próximo domingo (31) todas as unidades militares do País realizassem as “comemorações devidas” pela passagem dos 55 anos do golpe militar de 1964, o que provocou indignação em todo o País, inclusive em sua base eleitoral, Bolsonaro, sem qualquer dose de cerimônia, mudou o discurso, como se a memória do cidadão nada representasse.

Nesta quinta-feira (28), no melhor estilo “bobo da corte”, Bolsonaro disse não ter determinado aos quarteis que “comemorassem” o 31 de março, mas que rememorassem a data que marcou o início do período mais negro da história brasileira.

“Não foi comemorar. Rememorar, rever, ver o que está errado, o que está certo. E usar isso para o bem do Brasil no futuro”, declarou o presidente após participar de cerimônia de aniversário da Justiça Militar, na qual foi condecorado.

É importante lembrar que o início desta semana, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, confirmou que Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa a realização de comemorações em todas as unidades militares, como mencionado acima, para relembrar o golpe que derrubou o então presidente João Goulart e deu início a uma ditadura que durou 21 anos e foi marcada por violência e supressão de direitos e liberdade.


Bolsonaro é um apasquinado que acredita ser dotado de genialidade extrema, por isso abusa de forma recorrente do seu conhecido besteirol, fazendo inveja à ex-presidente Dilma Rousseff, famosa por declarações desconexas. Em entrevista ao jornalistas e apresentador José Luiz Datena, da Band, na quarta-feira (27), o presidente negou que os governos militares foram uma ditadura, mas ousou dizer que o “regime viveu probleminhas”.

“Temos de conhecer a verdade. Não quer dizer que foi uma maravilha, não foi uma maravilha regime nenhum. Qual casamento é uma maravilha? De vez em quando tem um probleminha, é coisa rara um casal não ter um problema, tá certo?”, declarou.

Falar em “probleminhas” para justificar as barbáries cometidas pelos militares nos porões da era plúmbea é delinquência intelectual. Bolsonaro é adepto das práticas adotadas pelos facinorosos generais que comandaram o País de 1964 a 1985, a ponto de recentemente ter homenageado o torturador Brilhante Ustra, então chefe do DOI-Codi.

Nesta quinta-feira, o presidente mais uma vez comparou o debate sobre a ditadura militar e as vítimas do regime com um casamento. Ao falar sobre os excessos cometidos pelo regime de então, Bolsonaro disse que não o melhor é não voltar “naquele assunto do passado, aquele mal-entendido”.

“Vamos supor que fôssemos casados, tivéssemos um problema, resolvêssemos nos perdoar lá na frente… É para não voltar naquele assunto do passado, que houve aquele mal-entendido entre nós. A Lei da Anistia está aí e valeu para todos”, declarou.

No texto (ordem do dia) que será lido no próximo dia 31 de março em todas as unidades militares do País, em nenhum trecho há qualquer “mea culpa” em relação ao golpe militar de 64 e o período ditatorial.