Vídeo sobre o golpe: PT ingressa com processo, enquanto o Palácio do Planalto corre atrás de explicações

A obsessão do presidente Jair Bolsonaro pela ditadura militar e pelos métodos abomináveis adotados para combater o que os generais e seus asseclas chamavam à época de luta armada começa a gerar problemas. Depois de determinar ao Ministério da Defesa a realização em todas as unidades militares do País das “comemorações devidas” pelos 55 anos do golpe de 1964, que abriu caminho para o período mais obscuro da história nacional, Bolsonaro agora enfrenta problemas decorrentes da divulgação de um vídeo a favor do movimento.

Divulgado no domingo (31) por uma rede social do Palácio do Planalto, o vídeo tornou-se o centro de um redemoinho do qual todos os palacianos tentam escapar. Com a confirmação de que o polêmico vídeo foi distribuído a uma lista do WhatsApp a partir da sede do governo, o Planalto, no melhor estilo empurra-empurra, agora levanta dúvidas sobre o caso e informa que a responsabilidade seria da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom)

A informação foi divulgada após o Partido dos Trabalhadores ingressar com representações para investigar as circunstâncias em que se deram a distribuição do vídeo e a produção do material. O que se sabe por enquanto é que o ator Paulo Amaral foi contratado no último sábado (30) para “para fazer um comercial, para ler um texto”, segundo relatou ao jornal “O Globo”.

A nota oficial Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov) informa que o vídeo teria sido “supostamente divulgado pela Secretaria de Comunicação (Secom) nos últimos dias”, e usa o termo “eventos relativos a 1964” para se referir ao golpe militar. “A Segov informa que estão sendo adotadas as medidas para o perfeito esclarecimento do assunto”, ressalta a nota.

No domingo (31), a Secretaria de Comunicação do governo confirmou, oficialmente e por escrito, que o vídeo “foi divulgado por meio de nosso canal oficial do governo federal no WhatsApp” e informou que o Palácio do Planalto não se pronunciaria sobre o assunto.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, também divulgou o vídeo em seu perfil Twitter. “Num dia como o de hoje o Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Duvida? Pergunte aos seus pais ou avós que viveram aquela época como foi?”, escreveu o parlamentar no post que acompanha o vídeo.


O vídeo usa como narrativa a definição tosca e covarde de Bolsonaro e alguns de seus ministros para classificar o golpe. Para eles, a derrubada de João Goulart do poder foi um movimento para conter o avanço do comunismo no País.

“O Exército nos salvou. O Exército nos salvou. Não há como negar. E tudo isso aconteceu num dia comum de hoje, um 31 de março. Não dá para mudar a história”, diz o apresentador do vídeo, o ator Paulo Amaral.

Informado de que cometera crime de responsabilidade, o que pode ensejar pedido de impeachment, Jair Bolsonaro decidiu amainar o próprio discurso e passou a falar em “rememorar” o golpe. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), 434 pessoas foram mortas pela repressão militar ou desapareceram durante a ditadura (1964-1985).

Nesta segunda-feira (1), as bancadas do PT na Câmara dos Deputados e no Senado entraram com representações na Procuradoria-Geral da República (PGR), na Controladoria-Geral da União (CGU) e na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão requerendo investigação sobre as circunstâncias de produção do vídeo. Os parlamentares também representaram contra o deputado Eduardo Bolsonaro na Comissão de Ética da Câmara.

De acordo com o PT, Bolsonaro usou meios institucionais da Presidência para violar a Constituição. Nesta segunda-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o Palácio do Planalto é responsável pelo vídeo. “Decisão do presidente. Foi divulgado pelo Planalto, é decisão dele”, disse Mourão.

Não há dúvidas de que no caso em questão Jair Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade, como preveem a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 85 e a Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, em seu artigo 9º.

Bolsonaro, um incompetente político cujo currículo fala por si, não tem estofo para cargo de tamanha importância. A cada decisão estapafúrdia, como a do mencionado vídeo sobre o golpe, o presidente da República torna-se refém do Parlamento, que a qualquer momento poderá aceitar pedido de impeachment contra o chefe do Executivo. Ou alguém impõe limites a Jair Bolsonaro, ou o Brasil há de experimentar o pior governo de todos os tempos.