Imprensa marrom, jornalismo vermelho

(*) Ipojuca Pontes

Bernard Shaw, dramaturgo irlandês e amigo pessoal de Joseph Stalin, o “Pai do Povo”, se esmerava em afirmar que o jornalismo é “a segunda profissão mais antiga do mundo”, de certo modo antecipando Ingmar Bergman, o cineasta sueco que disse estar a atividade cinematográfica (por vezes, uma forma de jornalismo) inserida “no ramo da prostituição”.

Não há dúvida: até hoje prevalece em boa parte da mídia brasileira o exercício prático, teórico e contínuo da inexpugnável imprensa marrom (“imprimeur marrom”, como são classificados os jornais do gênero na França). Façamos um breve relato de fatos em torno do assunto. Vejam só: já no final dos anos 20, Mário Rodrigues, pai de Nelson Rodrigues e dono do jornal “A Crítica”, foi enquadrado como um iniciado na prática desse tipo de jornalismo, depois de explorar nas primeiras páginas do jornal, escandalosamente, o rumoroso caso de adultério do casal Sylvia Serafim-João Thibau. À época, julgando-se ultrajada pela exploração sensacionalista, a mulher armou-se de um revólver e dirigiu-se à redação de “A Crítica” para matar o seu proprietário. Não o encontrando, matou com tiro certeiro o filho de Mário, o ilustrador Roberto Rodrigues, que tinha desenhado para o jornal, em traços toscos, cena íntima da mulher atracada ao seu (dela, lá) dentista.

Já Carlos Lacerda, fundador da “Tribuna da Imprensa”, passou a chamar Amaral Neto de “Amoral Nato”, depois que o antigo companheiro de redação fundou a revista “Maquis” (1957-1962) para cortejar a imprensa marrom com reportagens escandalosas do sórdido mundo político da época.

No universo do “beautiful people” e do showbiz dos anos 50, por sua vez, imperava a revista “Escândalo”, explorando a vida íntima de personagens como Ilka Soares. Cauby Peixoto, Angela Maria, Nelson Gonçalves, Tenente Bandeira, o deputado Barreto Pinto, Leopoldo Heitor, entre outros, todos tratados pela revista na base do porrete, da calúnia e da maledicência.

Há algum tempo, cerca de duas décadas atrás, tivemos o escabroso caso da Escola Base de São Paulo, em que a Rede Globo foi condenada a pagar R$ 1,35 milhão por danos morais sofridos por Icushiro Shimara, sua esposa Maria Aparecida e o motorista Maurício Monteiro, tratados pela emissora como pedófilos (tudo, sem provas ou qualquer tipo de defesa). No noticiário, chegou-se a afirmar que os donos da Escola Base, além de drogar as crianças e fotografá-las nuas, usaram o interior de uma kombi à guisa de motel destinado a orgias.

A Justiça, no entanto, considerou os indícios apresentados pela Rede Globo como falsos e infundados. Os acusados foram inocentados pela unanimidade dos juízes da 7ª Câmara de Direito Privado de SP. Mas, a essa altura, suas vidas já estavam arruinadas e a Escola Base destruída.

(Tratando do fenômeno “imprensa marrom”, o grande cronista – nos dois sentidos da palavra – Antonio Maria garantia que o jornalismo pode ser uma profissão rendosa, não só pelo que se publica, mas, em especial, pelo que NÃO se publica – e citava exemplos).

De fato, a “imprensa marrom” é uma aberração moral, uma espécie de câncer que deveria ser denunciada a qualquer tempo e hora, para o bem da existência humana na face de terra. Mas… e quanto ao “jornalismo vermelho” atuando ferozmente no Brasil?

O jornalismo vermelho é mil vezes pior do que a prática da imprensa marrom. Do ponto de vista clínico, ele é tão degenerescente quanto o estrôncio e mais daninho do que a dengue, a febre amarela, a zika, a chikungunya e a psicopatia, juntas.

Como analisei em meia dúzia de artigos, ele se manifesta como uma virose ideológica que, em vez de febre, vômito ou diarréia, transmite mentiras, invencionices sem o menor cabimento, interpretações deformadas e juízos de valor totalmente infundados ou tendenciosos. Seus ativistas, agentes de uma guerra patrocinada pelo comunismo internacional, são militantes renitentes no ofício doentio de desinformar e contrainformar, aberrações catalogadas pela antiga KGB soviética como armas fundamentais para manutenção da sabotagem revolucionária.

No Brasil, cujo Presidente, eleito pelo voto de cerca de 60 milhões de leitores, já se declarou contra a vigência dos socialismos de FHC, Lula e Dilma, a cavação do jornalismo vermelho é ostensiva. Querem uma evidência? Semana passada, na Globo “Fake” News desinformante Eliane Cantanhêde anunciou a inexistente demissão, feita por Bolsonaro, do ministro da Educação, Vélez Rodrigues, na base do mais cínico terror midiático.

Outra evidência? O fofoqueiro Ancelmo Gois, autoproclamado “protegido” da KGB e integrante da fanatizada tropa de choque de “O Globo”, diariamente procura detratar Bolsonaro e seus filhos. No domingo, criticou o Presidente por querer “desconstruir” muita coisa no País.

Gois, que tem no “meio” mafioso Barretão um padrão de decência, na certa ignora que o “desconstrucionismo” é uma sandice cultivada no seio do esquerdismo acadêmico para tentar desestruturar, via Derrida, os valores da cultura ocidental. Gois é a Juju da fofocagem global.

Quanto a “desconstruir” os rastros do comunismo corrupto e ateu venerados pelos esquerdistas – bem, esta é uma obrigação de todo cidadão que preze a democracia e tenha condições de fazê-lo.

A propósito, só para continuar na área da fofocagem global, Roberto Irineu Marinho, presidente do Conselho Administrativo de Grupo Globo, passou a usar barba no melhor estilo Fidel Castro. Tudo, no momento em que se fala muito na debandada de assinantes do jornal e na crise de faturamento da Rede Globo, que já não recebe verbas públicas com a mesma facilidade do passado. (Embora, segundo o jornalista Paulo Henrique Amorim, os Marinho controlem empresas as mais variadas e tenham cerca de dois bilhões de dólares aplicados no mercado financeiro).

PS1 – Na internet, mãe e pai da democracia digital, circula a seguinte
historieta, elucidativa: Trump, o Papa e Bolsonaro estavam num barco no meio do lago. De repente, uma rajada de vento impulsiona o chapelete do Papa para fora do barco.

– Vai você, Trump! – ouve-se uma voz.
– Como?! Eu tenho câimbras!
– Tá bem, eu vou – diz Bolsonaro.

E, em seguida, anda sobre as águas, apanha o chapelete, volta ao barco e o entrega ao Papa.

Manchete de um jornal vermelho tupiniquim, no outro dia:

BOLSONARO NÃO SABE NADAR

PS2 – O meio artístico sempre surpreende. Um leitor me segura pelo braço e pergunta se são verdadeiras as duras declarações de Nana Caymmi sobre as relações orais, íntimas, de Caetano, Gil e Chico com o presidiário Lula.

Manerei. E fiz ver ao leitor que a cantora, filha do gigante Dorival, talvez tenha usado uma figura de linguagem, no sentido em que o “baba-ovo”, por exemplo, não passa de um bajulador contumaz.

(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.

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