Bolsonaro até agora não manifestou pesar pela morte de músico alvo de fuzilamento do Exército no RJ

Uma família aproveita o domingo para ir a um chá de bebê, no Rio de Janeiro, mas o que deveria ser um dia alegre termina em tragédia porque o veículo dirigido pelo músico Evaldo Rosa dos Santos foi alvejado por 80 tiros disparados por policiais do Exército que, segundo o Comando Militar do Leste (CML), confundiram o automóvel com outro roubado em região ao próxima ao local do fuzilamento.

Desde o bárbaro crime, que não tem explicação, o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre o caso, apesar de usar de forma recorrente as redes sociais para publicar absurdos dos mais diversos. O que mostra que o chefe do Executivo fala no nome de Deus apenas quando convém ou para ludibriar o eleitorado.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, classificou como “incidente” o fuzilamento carro da família vítima do despreparo dos militares, que após o crime não prestaram socorro aos ocupantes do veículo, tratados com deboche, e deixaram o local às pressas.

Perguntado se Bolsonaro fez algum tipo de manifestação de pesar pela morte do músico, o porta-voz negou. “Não, não fez”, respondeu. E não deverá fazê-lo, pois seria manifestar-se contra o Exército, algo inadmissível para o presidente.

A torpeza do pensamento dos que atualmente ocupam o Palácio do Planalto chega a impressionar. Questionado se o fuzilamento causa algum constrangimento ao governo, o porta-voz classificou o episódio como “incidente”.

“A questão referente ao incidente com a morte do cidadão, eu repito: o Comando Militar do Leste e o Exército Brasileiro estão apurando os eventos em um inquérito policial militar, que está sendo acompanhado pela Justiça Militar e Ministério Público”, disse.

Rêgo Barros disse que o presidente quer que o caso seja “o mais rapidamente elucidado”, com apuração “mais correta e justa possível”. “As instituições do Exército Brasileiro, as instituições das Forças Armadas não compartilham com o equívoco dos seus integrantes, mas por óbvio precisa que seja feita uma apuração mais correta e justa possível”, disse o porta-voz.

Se o caso do bárbaro fuzilamento for elucidado da mesma maneira como foi apurado escândalo envolvendo Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro, a família do músico que se prepare, pois a espera será enorme.


Tribunal de exceção

Muito estranhamente, os militares que fuzilaram o veículo dirigido pelo músico abandonaram o local do crime e dirigiram-se ao quartel, cientes de que a Justiça Militar entraria em ação.

Lei sancionada pelo então presidente Michel Temer, em 2017, determina que crimes dolosos contra a vida, cometidos por militares contra civis, serão de competência da Justiça Militar em três casos: 1) se praticados no cumprimento de atribuições estabelecidas pelo presidente ou pelo Ministro de Estado da Defesa; 2) se cometidos em ação que envolva a segurança de instituição militar; 3) se forem de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem.

A alegação de que a equipe realizava patrulhamento regular no perímetro de segurança da Vila Militar, que fica próxima ao bairro onde ocorreu o fuzilamento, não convence e muitos menos explica o crime.

A primeira nota do CML afirmava que dois criminosos dentro de um veículo atiraram contra a equipe e que os militares “responderam à injusta agressão” e como resultado “um dos assaltantes foi a óbito no local e o outro foi ferido”.

Mais tarde, em outra nota, o Comando Militar do Leste informou que o caso estava sendo investigado pela Polícia Judiciária Militar com a supervisão do Ministério Público Militar. Segundo o CML, o primeiro texto foi emitido a partir das informações iniciais transmitidas pela patrulha. Ou seja, o Comando emitiu uma nota com base no famoso “ouvi dizer”.