Quando assumiu o ministério da Economia, sob a promessa do presidente da República de que teria amplos poderes para reconduzir o País à seara do crescimento econômico, Paulo Guedes anunciou, com pompa e circunstância, que não mais concederia privilégios a qualquer setor. Do contrário, disse o economista, o Brasil continuaria andando de lado.
A justificativa do governo Bolsonaro, como sempre recheado de soluções messiânicas, que até agora não surtiram qualquer efeito, é que no passado recente os economistas quebraram o País. Mesmo assim, o brasileiro continua à espera de alguma medida que o salve de uma crise marcada pela teimosia e principalmente pela forma impiedosa com que penaliza o cidadão.
Néscio confesso em matéria de economia, Bolsonaro impôs à Petrobras, na última semana, uma perde de mais de R$ 32 bilhões em valor de mercado ao impedir a estatal de aumentar o preço do diesel. A decisão do presidente da República, inegavelmente intervencionista, contraria o discurso liberal de Paulo Guedes, bem recebido pelo mercado financeiro. Guedes, que estava nos Estados Unidos, não foi consultado sobre a medida irresponsável e viu os índices econômicos reagirem de forma preocupante.
De volta ao Brasil, o ministro da Economia, apelidado pelo presidente de “Posto Ipiranga”, acertou com a equipe palaciana a liberação de uma linha de crédito de R$ 500 milhões aos caminhoneiros, responsáveis pela trapalhada de Jair Bolsonaro, além de investimentos de R$ 2 bilhões nas rodovias nacionais.
O governo esperava que o pacote de bondades pudesse conter os caminhoneiros, que classificaram a medida como “cortina de fumaça” e não descartaram a possibilidade de greve nacional no próximo dia 21 de maio. Se isso acontecer, o governo Bolsonaro experimentará um pouco do veneno que ajudou a produzir um ano atrás, quando o então presidente Michel Temer (MDB) dava as cartas no Palácio do Planalto.
Que Jair Bolsonaro é movido pela incompetência é não tem estofo para o cargo todos sabem, mas aceitar a pressão dos caminhoneiros é excesso de irresponsabilidade. Como se não bastasse a absurda interferência nos assuntos da Petrobras, empresa que opera de acordo com preços praticados no mercado internacional, Bolsonaro decidiu retirar radares de inúmeros pontos nas rodovias federais e elevar a pontuação para a perda da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Tornar-se refém de uma categoria é uma decisão perigosa, pois outras classes laborais podem adotar a mesma estratégia para colocar o governo contra a parede no momento de alguma reivindicação. Considerando que a economia não passa por bom momento e o brasileiro está cada vez mais desconfiado em relação ao futuro, tudo pode acontecer.
A liderança dos caminheiros é fragmentada, o que dificulta as tratativas do governo com a categoria. Os palacianos têm dialogado com diversos líderes dos caminhoneiros, sem saber se as propostas alcançarão os resultados esperados. Na greve de 2018, a fragmentação da liderança dos caminhoneiros deixou o staff do governo do então presidente Temer sem saber com que conversar.
Ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) trocou mensagens pelo WhatsApp, ao longo da terça-feira (16), com o caminhoneiro Wanderlei Alves, o Dedéco, que afirma ser integrante de grupo formado por várias lideranças da categoria.
Na troca mensagens de áudio com o chefe da Casa Civil, Dedéco afirmou que seu grupo não enviou qualquer ao governo, que não fosse o cumprimento da tabela de frete e a redução do preço do diesel.
“A pauta nossa é fazer valer o piso mínimo e não subir óleo diesel. A decisão do nosso grupo está tomada”, disse o caminhoneiro. “Se subir o óleo diesel, ministro, nós vamos parar e ponto final”, completou Dedéco. Em seguida, Onyx Lorenzoni bloqueou o caminhoneiro no WhatsApp.