Presidente da República, Jair Bolsonaro usou até recentemente o discurso da “velha política” para colocar, mais uma vez, a opinião pública contra a maioria do Congresso Nacional, estratégia velhaca que serviu apenas para esconder por algum tempo a incompetência de um governo despreparado e que vive em meio a trapalhadas e recuos.
Por mais que insista em vociferar o mantra surdo da “nova política”, Bolsonaro é um político carcomido e cheio de cacoetes que usa de forma recorrente os artifícios rasteiros da “velha política”, dentre o oportunismo, sempre acompanhado pela desfaçatez oficial.
Acostumado a criticar com doses de virulência a imprensa nacional, postura que ficou evidente nos casos envolvendo a ex-assessora parlamentar fantasma Walderice Santos da Conceição, a “Wal do Açaí”, e o policial militar aposentado Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro, protagonistas do escândalo das “rachadinhas” e outras transgressões.
Em ambos episódios, Jair Bolsonaro não poupou adjetivos para criticar o trabalho da imprensa, afirmando, inclusive, que o jornal “Folha de S.Paulo” perdera o prestígio. “Esse jornal acabou. Não tem mais prestígio. Quase todas as fake news que se voltaram contra mim partiram da Folha de S. Paulo. Inclusive, a última matéria diz que eu teria contratado empresas fora do Brasil, via empresários daqui, para espalhar mentiras contra o PT. Uma grande mentira”, disse Bolsonaro em 29 de outubro de 2018.
Na esteira do recrudescimento da crise institucional causado pela decisão equivocada do Supremo Tribunal Federal (STF) de censurar veículos de comunicação (“Crusoé” e “O Antagonista”) por conta de matéria que cita o presidente da Corte, Bolsonaro não perdeu tempo e, com a desfaçatez que lhe é peculiar, disse nesta quinta-feira (18) que a imprensa é essencial para a democracia.
“Em que pese alguns percalços entre nós, precisamos de vocês (profissionais da imprensa) para que a chama da democracia não se apague”, afirmou Jair Bolsonaro, durante evento no Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. O presidente disse também que espera que “pequenas diferenças fiquem para trás”.
É um direito de Bolsonaro tentar esconder sua hipocrisia, mas que não tente vender à imprensa a imagem de defensor da democracia, pois jornalistas coerentes sabem que essa investida é mais uma farsa de alguém que despenca nas pesquisas de opinião e agora precisa da mídia para reverter o quadro.
Ademais, não se pode confiar em um político que defende publicamente torturadores e até recentemente não escondia o próprio orgulho de ser racista, homofóbico, machista e xenófobo. Só cairá nessa esparrela bolsonarista quem realmente for inocente ou estiver a serviço de um governo pífio que flerta diuturnamente com o totalitarismo.