Quando um presidente da República vai à televisão, em rede nacional, para agradecer ao timoneiro da Câmara dos Deputados pela aprovação de um projeto de interesse da nação, em clara demonstração de pouco traquejo político, é porque o governo acabou quatro meses após ter começado. Que esperneiem os bajuladores de plantão de Jair Bolsonaro, mas os salamaleques disparados na direção de Rodrigo Maia na noite de quarta-feira foram um espetáculo vergonhoso.
Não há dúvida que a relação entre o Executivo e o Legislativo deve ser a melhor possível, mas esse tipo de manifestação deixa evidente que o staff presidencial está perdido em meio a uma crise que só faz crescer, enquanto a desconfiança em relação à aprovação da reforma da Previdência também aumenta com o passar dos dias.
No discurso feito aos brasileiros, mas que teve como objetivo principal bajular o presidente da Câmara, Bolsonaro afirmou que a aprovação da reforma da Previdência é importante porque garantirá ao governo a possibilidade de investir em áreas essenciais e permitirá a redução das desigualdades sociais.
Assim como qualquer cidadão, o presidente da República tem o direito à livre manifestação do pensamento, mas não pode acreditar que suas palavras são a máxima e derradeira expressão da verdade. Somente um desavisado é capaz de aceitar a tese de que novas regras previdenciárias serão capazes de acabar com as desigualdades sociais no País.
A afirmação em questão é tão absurda, que não mereceria comentários adicionais, mas é importante analisar a mais nova estultice presidencial para que fica patente a falta de competência de Jair Bolsonaro para um cargo de tamanha relevância. Que a aprovação da reforma da Previdência é importante todo brasileiro sabe, mas transformar o projeto em varinha de condão é devaneio oficial.
Eliminar as desigualdades sociais existentes no País exige muito mais do que um projeto de reforma da Previdência. Para tal são necessários investimentos em educação, saúde, habitação, transporte, emprego, capacitação profissional, distribuição de renda, entre outros pontos cruciais.
Além disso, o Estado, como um todo, precisa criar diretrizes definidas em lei para cada um desses setores, as quais deverão ser seguidas à risca por qualquer governante, sob pena de assim não fazendo colocar em risco o futuro da nação e dos brasileiros. Não obstante, essa revolução, anunciada por Bolsonaro como mero passe de mágica, exige paciência, conhecimento e determinação. Ou seja, é preciso tempo, muito tempo para que a dura realidade brasileira mude para melhor.