O Malawi deu início, na terça-feira (23), a um programa piloto de vacinação contra a malária. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país é o primeiro do mundo a aplicar a única vacina licenciada contra a doença transmitida pela picada de mosquitos. Nas próximas semanas, o programa será estendido para Quênia e Gana.
O programa pretende confirmar a eficácia da vacina, conhecida como RTS,S, em crianças com menos de dois anos, o grupo mais vulnerável à doença. A RTS,S será aplicada em 360 mil crianças por ano nos três países. Caso o resultado do programa piloto seja positivo, como ocorreu em fases anteriores de testes, ele poderá ser estendido a outras nações onde a doença é endêmica.
“A vacina contra a malária tem o potencial de salvar dezenas de milhares de vidas de crianças”, afirmou, em comunicado, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
Ele apontou que nos últimos 15 anos a prevenção da doença avançou, mas que esse progresso estagnou e, por isso, são necessárias novas medidas.
As crianças receberão quatro doses da vacina, dos cinco meses aos dois anos de idade. Apelidada de “Mosquirix”, a vacina foi desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline em parceria com a organização não governamental Path e aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos em 2015. O programa de vacinação, coordenado pela OMS, é desenvolvido em parceria com os ministérios da saúde dos três países em questão.
Em testes anteriores, entre 2009 e 2014, análises feitas em grupos menores mostraram que a vacina reduziu em 40% os casos de malária e em 30% os casos de malária grave. Além disso, diminuiu em 60% os casos de anemia relacionada à doença, uma das principais razões da mortalidade infantil em crianças que contraem a enfermidade.
Embora a vacina proteja apenas cerca de um terço das crianças que serão imunizadas, os casos de malária grave serão provavelmente menores entre o grupo vacinado.
“É uma vacina imperfeita, mas ainda tem potencial para salvar milhares de vidas”, afirmou Alister Craig, da Escola de Medicina Tropical de Liverpool.
Transmitida pelo mosquito anófeles e causada por protozoários, a malária é uma das doenças mais prejudiciais para o ser humano, com 200 milhões de casos por ano e cerca de 435 mil mortes, muitas delas de crianças. A África é a região mais afetada, onde morrem anualmente 250 mil crianças de malária.
O diretor do programa de malária da OMS, Pedro Alonso, afirmou que o programa de vacinação iniciado no Malawi é um momento histórico. Apesar de reconhecer que a vacina é falha, Alonso afirmou que o mundo não pode esperar por uma opção melhor.
“Não sabemos quanto tempo demorará para o desenvolvimento de uma nova geração de vacina”, destacou. A “Mosquirix” levou mais de 30 anos para ser desenvolvida, e as pesquisas custaram cerca de US$ 1 bilhão.
Alonso afirmou ainda que o progresso contra a malária está estagnado. Há um aumento da resistência aos medicamentos usados no tratamento da doença, e os mosquitos estão se tornando também mais resistentes a inseticidas.
O programa de imunização representa uma etapa para concretizar os esforços iniciados na década de 1990 para a erradicação da malária. Até 2030, a OMS pretende reduzir em 90% o número de mortos pela doença. (Com agências internacionais)