União Europeia inicia sua eleição mais importante

Os europeus iniciam nesta quinta-feira (23) os quatro dias de votação para o Parlamento Europeu, que influenciarão não apenas a política feita em Bruxelas nos próximos cinco anos, mas também, até certo ponto, a própria existência da União Europeia (UE).

Em 2014, nacionalistas contrários ao projeto de unificação europeia dobraram sua presença no legislativo europeu. Eles lideraram também a votação no Reino Unido e, dois anos depois, se consagraram vitoriosos no referendo que determinou a saída britânica do bloco comunitário europeu.

Cinco anos depois, as pesquisas mostram que os nacionalistas e eurocéticos poderão novamente se sair bem nas urnas em vários países, incluindo o Reino Unido, a Itália, a Hungria e a França. Mas há também reveses para esse grupo. O Brexit ainda está para acontecer – ou pode nem mais vir a ocorrer. A extrema direita chega à eleição europeia atingida pelo escândalo de conluio do agora ex-vice-chanceler federal da Áustria, Heinz-Christian Strache, com uma suposta sobrinha de um oligarca russo interessado em comprar favores.

E também outros populistas que chegaram ao poder nacional têm de lidar com simpatizantes desiludidos. Isso vale especialmente para a coalizão italiana, formada pela xenófoba Liga e o antissistema Movimento Cinco Estrelas.

O projeto de união europeia também enfrenta desafios externos, que incluem um presidente dos Estados Unidos que corteja os populistas da Europa e impõe tarifas a aliados e a ascensão econômica da China.

Mas, ao que tudo indica, os partidos políticos pró-europeus, que buscam ações comuns em questões como comércio, segurança, imigração ou meio ambiente, deverão continuar dominando o Parlamento Europeu, mesmo se for com uma maioria menor.

Nas últimas semanas, os defensores do projeto europeu trouxeram à tona lembranças de eventos que moldaram a UE: faz 75 anos que os americanos desembarcaram na França para derrotar a Alemanha nazista e que as forças russas deixaram os alemães esmagarem um movimento libertário em Varsóvia, além de 30 anos desde que os alemães derrubaram o Muro de Berlim para reunir os lados ocidental e oriental.

Onda nacionalista

Mas memórias de guerras não bastam para construir a fé num futuro unido. Jean-Claude Juncker, que será substituído como presidente da Comissão Europeia após as eleições, alertou para os perigos de uma crescente onda de nacionalismo, e não apenas nas margens da sociedade.

Os principais partidos que promovem a integração da economia da zona do euro têm lutado para capturar a atenção de um público cansado das elites políticas.


O presidente da França, Emmanuel Macron, descreveu a eleição atual como “indubitavelmente a mais importante” desde a primeira, realizada em 1979, e pediu a cooperação de conservadores, social-democratas e verdes para enfrentar as forças contrárias à UE.

“No mundo atual, precisamos de uma Europa mais forte e mais unida”, disse Macron ao jornal belga Le Soir. Ao ser questionado sobre se ele acredita que seus adversários nacionalistas querem destruir a União Europeia, o presidente francês foi enfático: “Claro”.

Macron não precisar olhar para fora do território francês para ver a ameaça. A legenda nacionalista Rassemblement National (antiga Frente Nacional), liderada por Marine Le Pen, disputa a preferência dos eleitores com a République en Marche, partido do presidente, e esperar liderar novamente a votação na França. Le Pen tem reiteradamente dito aos eleitores que encontrará muitos aliados no Parlamento Europeu para bloquear o que ela classifica de “corrida ao federalismo”.

Um desses possíveis aliados é a Liga, do ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, que pode destronar os democratas-cristãos da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e se tornar o maior partido individual no parlamento de 751 assentos. A Liga pode chegar a até 30% dos votos na Itália, segundo pesquisas.

A composição do próximo parlamento prevê 73 representantes do Reino Unido. Concluída a saída dos britânicos da UE, esses deputados perderão seus mandatos, que serão em parte redistribuídos entre os demais países. O Parlamento Europeu passará a ter então 705 deputados.

Partidos de extrema direita da Polônia e da Hungria, que desafiam Bruxelas com restrições à independência judicial e da mídia, também recolocarão deputados eurocéticos no Parlamento Europeu no domingo.

E o Partido Brexit, do eurocético Nigel Farage, também tem boas chances de terminar em primeiro lugar no Reino Unido, embora as circunstâncias em torno da eleição britânica beirem o absurdo. Os britânicos começam a votar nesta quinta-feira, quase dois meses depois da data em que deveriam ter deixado a UE, e escolherão 73 eurodeputados que não terão nem mesmo a certeza de que poderão assumir seus assentos em julho.

Resultados

Os resultados devem ficar claros no fim da noite do próximo domingo (26) – em seguida, serão semanas de negociações entre partidos para formar uma maioria estável no Parlamento Europeu e entre os líderes nacionais para escolher os sucessores de Juncker e de outros altos funcionários da Comissão Europeia.

Muitos europeus podem estar indiferentes aos acontecimentos em Bruxelas, mas os governos em Moscou, Washington, Pequim e em outros países certamente estarão observando de perto os sinais de fraqueza política – ou de força – no maior bloco econômico do planeta. (Com agências internacionais)