Fanfarrão e irresponsável, Bolsonaro faz aceno ao Congresso e ao Judiciário depois de comandar ataques

Que Jair Bolsonaro é um trapalhão na política todos sabem, mas classificar as manifestações de domingo (26) como “históricas” é devaneio do presidente da República, que à frente de um governo inerte e marcado pela incompetência precisa recorrer aos radicais apoiadores para não sucumbir ao óbvio.

Somente néscios viram nas manifestações um ato favorável ao governo, pois os que realmente entendem de política sabem que tudo não passou de uma precipitação por parte de Bolsonaro, que com o avanço dos dias se viu obrigado a pedir aos apoiadores o esvaziamento da pauta. Além disso, foi aconselhado a não participar dos atos para não incorrer em crime de responsabilidade e com isso abrir caminho para pedidos de impeachment.

No momento em que o governo depende do Congresso para aprovar medidas de interesse do País, em especial as que podem impulsionar a economia, apoiar protestos contra o Parlamento e a mais alta instância do Judiciário é no mínimo suicídio político. É sabido que Bolsonaro aposta em modelo de governança que se assemelha a uma versão tropicalista do fascismo, que como tal é um atentado à Constituição Federa e ao Estado Democrático de Direito, mas a lei há de prevalecer, mesmo diante da estupidez alheia.

Ciente de que o resultado das manifestações não foi avassalador, Bolsonaro, aconselhado por assessores, decidiu disparar salamaleques na direção do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de reconstruir relações destruídas por declarações estapafúrdias e provocações típicas de candidatos a ditador. E convidou os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo, Dias Toffoli, para um café da manhã, nesta terça-feira (28), no Palácio da Alvorada.


A ideia de Bolsonaro – que na verdade é de Toffoli – é tentar uma reaproximação com os chefes do Legislativo e do Judiciário, propondo um “pacto pelo Brasil” e a favor das reformas da Previdência e tributária. Ora, se as manifestações foram extraordinárias e um recado claro aos insistem na chamada “velha política”, com disse o presidente da República, esse tal “pacto pelo Brasil” é desnecessário. Afinal, a voz das ruas é o que vale. Ou não?

Fato é que nesse cenário o irresponsável maior atende pelo nome de Jair Messias Bolsonaro, que continua acreditando que saiu das urnas de 2018 como dono do Brasil, o que não é verdade. Nos bastidores do Legislativo e do Judiciário a conclusão é que, apesar das estultices do presidente da República, é preciso fazer algo antes que o País vá pelos ares.

Bolsonaro sabe que será alvo de alguma reação do Congresso, de quem depende para aprovar matérias de interesse do governo e do País. Porém, deputados e senadores não darão ao presidente o protagonismo das decisões. Ao chefe do Executivo darão o troco devido e na hora adequada, pois Bolsonaro esteve por trás dos ataques ao Congresso e ao STF. O presidente tentou disfarçar classificando a mobilização como “espontânea”, mas não convenceu. E quem conhece como funciona o atual governo sabe que o presidente comandou a operação através dos prepostos de sempre.

Em suma, em vez de facilitar a vida de um governo pífio e dado às fanfarronices, Bolsonaro preferiu esticar ainda mais a corda, como se pudesse decidir sozinho os destinos do País. Não se pode esquecer que a aprovação da reforma da Previdência não tirará a economia do atoleiro em que se encontra. No momento em que a economia travar de vez e o brasileiro não tiver dinheiro para as necessidades básicas, Bolsonaro saberá o que é popularidade em queda. E falta pouco para isso.