Manifestações a favor de um governo paralisado e de um presidente despreparado serviram para nada

Presidente da República, Jair Bolsonaro foi um dos principais incentivadores das manifestações do domingo (26), mas foi aconselhado a não participar do movimento para evitar o crime de responsabilidade, o que poderia levar a um pedido de impeachment. Ato contínuo, o chefe do Executivo tentou passar à opinião pública a falsa ideia de que era contra o discurso dos manifestantes que pregam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e atacam o Congresso Nacional, alegando que os defensores dessa tese embarcariam na manifestação errada.

Contudo, como não escreve sentado o diz em pé – e vice-versa –, Bolsonaro, no domingo, durante culto religioso no Rio de Janeiro disse que as manifestações eram um recado aos que insistem na “velha política”. O presidente, que insiste em falar em “nova política”, ainda não revelou quem são os velhacos da política nacional que atrapalham o seu governo. Enquanto não revelar os nomes desses supostos culpados, Bolsonaro estará incorrendo em crime de prevaricação.

É importante ressaltar que ao presidente restou esse palavrório insosso e vazio diante de manifestações que ficaram aquém das expectativas, pois nem de longe traduziram os resultados das urnas de 2018, assim como não ecoaram as sandices publicadas nas redes sociais. Considerando que Bolsonaro foi eleito presidente com 57 milhões de votos, o que se viu nas ruas do País ao longo do domingo foi o retrato de um governo fracassado, que depois de cinco meses precisou recorrer ao apoio popular para camuflar a própria incompetência.


Como se sabe, Jair Bolsonaro passou 28 anos no Congresso Nacional como deputado federal, mas ao longo desse período não aprendeu a fazer política. Além disso, diferentemente do falso moralismo que hoje destila, assistiu calado aos mais variados escândalos de corrupção, inclusive no seu então partido, o PP, sem jamais ter se insurgido contra os criminosos.

No momento em que, na manhã de domingo, afirmou que as manifestações eram um recado aos velhacos da política, Bolsonaro voltou a apostar na radicalização e na polarização para levar adiante um governo que há muito vem esfarelando. Faltando pouco para a votação da reforma da Previdência, o presidente da República erra sobremaneira ao não modular seu discurso e, mantendo sua conhecida estupidez, investir novamente no confronto político, como se o apoio popular lhe garantisse algo concreto.

Se alguém do círculo mais próximo a Bolsonaro acreditou que as manifestações pudessem reverter o cenário político nacional, por certo a semana começou com dores de cabeça. Isso porque na melhor das hipóteses tudo continua como d’antes, talvez um pouco pior. Afinal, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi um dos principais alvos das manifestações, assim como o chamado “Centrão”, rotulado como “traidor” pelos manifestantes.

O brasileiro que se prepare, pois Bolsonaro, ao contrário do que prometeu durante a corrida presidencial, não tem a solução milagrosa para os problemas do País nem disposição para dialogar com os parlamentares, o poderia mostrar o caminho para se chegar à luz no fim do túnel. Em suma, ou Bolsonaro será apeado do poder em breve ou terá de aceitar a função de versão tropical de rainha da Inglaterra. Até porque, do jeito que está não dá para continuar.