“Se está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada”, diz Bolsonaro sobre filho em embaixada

Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente da República na esteira de um discurso supostamente moralizador, que ruiu seis meses após a estreia do governo. Bolsonaro adotou o mantra de eliminação da esquerda nacional, o que lhe rendeu votos suficientes para subir a rampa do Palácio do Planalto.

Depois desse embuste discursivo que atenta contra o Estado Democrático de Direito, o presidente passou a entoar um palavrório contra o que ele decidiu chamar de “velha política”, como se sua trajetória não tivesse ocorrido à sombra do que condena. Não obstante, Bolsonaro usou a “velha política” para arrumar a vida de três dos cinco filhos.

Para comprovar o que grande parte da imprensa vem noticiando nos últimos meses, Bolsonaro anunciou na última semana que está a um passo de nomear o próprio filho, Eduardo Bolsonaro, como embaixador do Brasil em Washington, cargo mais cobiçado da diplomacia verde-loura.

Por razões óbvias o anúncio foi seguido de uma enxurrada de críticas, principalmente após Eduardo ter afirmado que “fritou hambúrguer no frio do Maine”, nos Estados Unidos, como se isso fosse credencial para assumir o posto de embaixador na terra do Tio Sam.


Que o governo Bolsonaro é uma piada pronta todos sabem, mas a ousadia do presidente chega a ser acintosa. Nesta segunda-feira (15), em sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro não se fez de rogado e saiu em defesa do filho, que é desprovido de qualificação para ser presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa legislativa, que dirá para ser embaixador.

“Por vezes, temos tomado decisões que não agradam a todos, como a possibilidade de indicar para a embaixada um filho meu, tão criticada pela mídia. Se está sendo tão criticado, é sinal de que é a pessoa adequada”, disse o presidente.

De acordo com Jair Bolsonaro, o filho fala inglês com fluência, mantém boa relação com a família do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e “daria conta do recado perfeitamente”.

A decisão do presidente, se confirmada, mesmo que dependendo de aprovação do Senado, trata-se de um deboche à diplomacia brasileira, que tem nomes de destaque e qualificação incontestável para cargo de tamanha importância. Contudo, Bolsonaro quer cultivar aquilo que diante de câmeras e microfones condena com veemência: a “velha política”.

Representantes da oposição na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, a quem cabe aprovar o rejeitar nomes de embaixadores indicados pelo Palácio do Planalto, contestaram a possibilidade de Eduardo Bolsonaro ser alçado à embaixada do Brasil em Washington. Os senadores oposicionistas alegam que trata-se de nepotismo e de desrespeito à carreira diplomática, como mencionado acima.