Bolsonaro abusa da ironia e da galhofa e na Argentina apresenta o quarto filho como “embaixador mirim”

Presidente da República, Jair Bolsonaro afirma ser um defensor da democracia, mas muitas de suas atitudes apontam na direção contrária. Depois de anunciar que indicará o filho Eduardo para comandar a embaixada brasileira em Washington, o que fere as regras da diplomacia, Bolsonaro dá demonstrações claras de que seu desejo maior é usar o mandato presidencial para instalar a própria dinastia, como se o Brasil ainda vivesse nos tempos do Império.

Depois da polêmica e do turbilhão de críticas contra a indicação de Eduardo Bolsonaro para o posto de embaixador nos Estados Unidos, o presidente da República, que trata publicamente muitos dos assuntos de governo com deboche, apresentou outro filho, Jair Renan, aos jornalistas brasileiros como “embaixador mirim”.

Que Bolsonaro é despreparado para o cargo que ocupa todos sabem, até porque o UCHO.INFO alertou para o fato várias vezes durante a corrida presidencial, mas abusar da galhofa para jogar uma cortina de fumaça sobre suas questionáveis decisões é excesso de amadorismo.

Tão logo desembarcou em Santa Fé, na Argentina, onde participou da 54ª Cúpula do Mercosul, surgiu acompanhado do quarto filho, o único que por enquanto não ingressou na política, mas não demorará muito para que isso ocorra.

Diante da imprensa, Bolsonaro referiu-se ao filho como “embaixador mirim”. “Tô com o embaixador aqui do meu lado. Vem cá, embaixador. Gostaram do embaixador aqui? Embaixador mirim. Está aprendendo”, disse o presidente.


É importante ressaltar que viagens oficiais não podem ser transformadas em cenário para jovens aprendizes, mesmo que Bolsonaro assim decida, pois o Brasil ainda é uma democracia e os brasileiros não devem aceitar esse tipo de situação. Até porque, se um reles cidadão comparecer ao local de trabalho acompanhado do filho certamente terá problemas.

O Palácio do Planalto, que deveria explicar a presença de Jair Renan na comitiva presidencial, com direito a registros de imagens oficiais na condição de “papagaio de pirata”, preferiu se calar diante dos questionamentos de jornalistas.

O Brasil vive um momento peculiar, em que o revanchismo ideológico dá o tom do cotidiano, como se discurso de ódio fosse a solução. Quando a então presidente Dilma Rousseff se fazia acompanhar pela filha Paula Araújo em algumas viagens oficiais, a “direita xucra” (o termo é da lavra do jornalista Reinaldo Azevedo) criticava duramente a petista.

Agora, com Bolsonaro na Presidência, o que em passado não tão distante era condenável passou a ser aceitável. Isso porque um terço da opinião pública não enxerga o óbvio.

Longe de querer defender Dilma e os petistas que se lambuzaram na vala da corrupção, a diferença entre Paula Araújo e Jair Renan é que a filha da outrora presidente era discreta e sabia o seu lugar. Enfim, resta torcer para que o tal “embaixador mirim” não revele que seu predicado maior é saber fritar hambúrguer. Afinal, basta um!