Agido como verdadeiro ditador, o que eventualmente pode estar causando inveja ao tiranete bolivariano Nicolás Maduro, o presidente Jair Bolsonaro não consegue governar a contento, por isso insiste em culpar a imprensa por seus fracassos. Como se os jornalistas fossem responsáveis pelos tropeços e sandices presidenciais.
Em nova investida contra os veículos de comunicação do País que fazem jornalismo sério e responsável, Bolsonaro afirmou, nesta quinta-feira (22), que o jornal Valor Econômico “vai fechar”. O motivo, de acordo com o presidente, é o fim da obrigatoriedade de empresas de capital aberto publicarem balanços em jornais. Medida Provisória enviada ao Congresso no início de agosto prevê o fim dessa obrigatoriedade, mas é importante destacar que a MP depende de aprovação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
O tosco comentário de Bolsonaro foi feito durante café da manhã com representantes da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (ACAERT), no Palácio do Planalto. “Sabe o que eu posso fazer? Chamo o presidente da Petrobrás aqui e digo: ‘Vem cá, (Roberto) Castello Branco. Você vai mostrar seu balancete este ano no jornal O Globo’”, disse o presidente, ressaltando que poderia determinar tal procedimento, mesmo que custasse R$ 10 milhões.
“Posso fazer ou não? Vinte páginas de jornais para isso (publicação de balanços). E o jornal Valor Econômico, que é da Globo, vai fechar. Não devia falar? Não devia falar, mas qual é o problema? Será que eu vou ser um presidente politicamente correto? Uai. É isso daí aqui no Brasil”, disse Bolsonaro.
A mencionada MP permite que empresas com ações em bolsa publiquem sem custos seus balanços no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou no Diário Oficial da União. Ao anunciar a medida, em 6 de agosto, Bolsonaro afirmou que tratava-se de “retribuição” ao tratamento que recebeu da imprensa durante a campanha eleitoral.
Movido pelo revanchismo ideológico e pela aversão à democracia, o presidente da República já não se recorda que, em abril passado, sancionou lei que prevê a publicação resumida de balanços nos jornais partir de 2022.
“Há uma briga com a mídia tradicional, com a grande mídia, na questão de deturpar (informações)”, disse o presidente no encontro.
Horas antes de protagonizar mais um espetáculo típico de ditadores, Jair Bolsonaro falou sobre a MP durante conversa com jornalistas. “Tirei de vocês R$ 1,2 bilhão com publicação de balancetes. Não é maldade. É bondade e justiça com os empresários, que não aguentam pagar isso para publicar páginas e páginas que ninguém lê. Então, publica no site oficial, CVM, a custo zero”, disse.
Em seu destampatório, Bolsonaro afirmou também que “a imprensa” está acabando, assim como acabou a profissão de datilógrafo. “Já estamos ajudando assim a não ter desmatamento, porque papel vem de árvore. Estamos em uma nova era. Assim como acabou no passado o datilógrafo, a imprensa está acabando também. Não é só por questão de poder aquisitivo do povo que não está bom. É porque não se acha a verdade ali.”
Fulanização da estupidez, o presidente continua acreditando que foi eleito para ser dono do Brasil, o que não condiz com a realidade. Além disso, alguém do núcleo duro do governo deveria alertar Bolsonaro para o fato de que a queda de um governante não depende apenas da vontade dos políticos. Não custa lembrar que Fernando Collor começou a cair quando passou a acreditar que estava acima de todos e da lei.