Bolsonaro descarta ajuda financeira do G7 para a Amazônia e opta de novo por subserviência aos EUA

Subserviência. Eis a palavra que embala a desmedida obsessão de Jair Bolsonaro pelo atual inquilino da casa Branca, Donald J. Trump. Quem desconhece os meandros da política internacional sequer imagina o que significa essa genuflexão de Bolsonaro em relação ao presidente dos Estados Unidos, situação que poderá mudar radicalmente caso outro candidato seja eleito no próximo ano para comandar os destinos da maior potência do planeta.

Se os EUA são grandes econômica e militarmente, a vulnerabilidade diante do cenário internacional é igualmente grande. Por isso Trump joga o tempo todo, com direito a avanços e recuos, dependendo da situação e da necessidade. Ao recusar a oferta de ajuda financeira dos países do G7 para combater as queimadas na Amazônia, o presidente brasileiro aceita de maneira fácil o jogo político de Trump.

O Palácio do Planalto informou na noite desta segunda-feira (26) que o governo Bolsonaro já descartou a ajuda anunciada pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Bolsonaro, que não aceita o contraditório e não conhece o significado da palavra humildade, decidiu fazer parceria com os Estados Unidos e Israel para combater as queimadas na Amazônia, que, segundo o ministro da Defesa, estão sob controle.

Enfrentando índice de desaprovação popular na casa de 53,7%, segundo dados da mais recente pesquisa CNT/MDA, Bolsonaro se viu obrigado a rejeitar a oferta anunciada por Macron, estratégia que visa também isolar politicamente o presidente da França no âmbito do G7. A justificativa do governo brasileiro para a recusa é que faz-se necessário não comprometer a soberania nacional na Amazônia.

Esse modelo de diplomacia do governo Bolsonaro, que remonta à década de 70 e defende o enfrentamento com meta prioritária, serve apenas para institucionalizar um regime que flerta diuturnamente com o autoritarismo e o retrocesso. Até porque, nos tempos modernos a diplomacia é pautada pela cooperação, não pelo confronto permanente.


Carente do apoio de algum governante de expressão internacional, Bolsonaro recorreu a Donald Trump para não passar vexame e enfrentar a maior derrota política do governo até o momento. Trump, que precisava estocar a União Europeia de alguma maneira, encontrou no desespero de Jair Bolsonaro a oportunidade ideal.

Com a aprovação do acordo bilateral de livre comércio entre União Europeia e o Mercosul, o presidente americano perdeu espaço na região, no momento em que a economia dos Estados Unidos pode sofrer com os efeitos colaterais decorrentes da queda de braços com Pequim, que já deu mostras claras de que sabe jogar e blefar diante do tabuleiro das grandes potências.

A grave crise que afeta a Amazônia migrou para a seara da geopolítica, fazendo de Jair Bolsonaro refém novamente da Casa Branca. Recusar ajuda financeira do G7 (20 milhões de euros) sob o argumento de que a soberania nacional não pode ser ameaçada é apostar na teoria da conspiração. Afinal, o combate às queimadas está sendo feito, em parte, com recursos aportados pelos governos da Alemanha e da Noruega no Fundo Amazônia, demonizado pelo Palácio do Planalto.

Bolsonaro e seus obedientes e submissos estafetas podem alegar o que bem entender, mas é preciso ressaltar que a Amazônia não é apenas brasileira. Do total da floresta tropical mais importante do planeta, 60% ficam em território verde-louro, sendo que o restante pertence ao Peru (13%), Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Ou seja, não há como afirmar que soberania nacional será ameaçada caso o governo aceite a ajuda financeira do G7.

Esse jogo sujo e rasteiro proposto por Donald Trump terá um custo excessivamente alto para o Brasil, em especial porque a Casa Branca há muito tenta ingerir com maior ênfase na América do Sul, o que não aconteceu até o momento por causa de governos de esquerda. Isso posto, não causará surpresa se Moscou oferecer ajuda logística e financeira a alguns países vizinhos que integram a Amazônia e sofrem com as queimadas.

Apesar desse intrincado cenário, que mescla interesses dos mais diversos, os jagunços bolsonaristas, que não enxergam o óbvio, preferem endossar os covardes ataques de Bolsonaro à primeira-dama da França, Brigitte Macron, como se tal postura acrescentasse algo à vida do País. Não obstante, o comportamento torpe de Bolsonaro é igualmente proporcional ao seu despreparo como presidente.