Entidade recua e nega suspensão de compra do couro brasileiro, após carta alarmista enviada ao governo

Em meio à polêmica que se formou a partir das queimadas e do desmatamento na Amazônia, é recomendável que qualquer ação do governo ou da iniciativa privada seja marcada pela veracidade dos fatos.

É sabido que a crise ambiental gerará danos e prejuízos ao País, mas roga-se que comunicados alarmantes a respeito do assunto não sejam divulgados a esmo, obrigando o imediato recuo dos respectivos responsáveis. Errar é humano, todos sabem, mas não se pode jogar combustível em uma fogueira de declarações que arde tanto quanto a Amazônia.

Contrariando o conteúdo de carta divulgada na manhã desta quarta-feira (28) e endereçada ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello, negou que importadores de couro brasileiro decidiram suspender a compra do produto em função das queimadas na maior floresta tropical do planeta.

A mencionada interrupção na importação do couro brasileiro teria sido decidida em razão da eventual conexão dos incêndios com a atividade pecuária na região norte do País.


Na carta enviada ao ministro do Meio Ambiente, na noite desta terça-feira (27), o CICB destaca a “suspensão de compras de couros a partir do Brasil de alguns dos principais importadores mundiais”.

O dirigente da entidade alegou, posteriormente, que houve um “erro de pré-avaliação”. Para quem conhece os bastidores e os subterrâneos do Poder essa desculpa não convenceu. A informação pode até ser procedente e eivada de verdade, mas é preciso cautela diante do desmentido, pois o governo Bolsonaro tenta escapar da crise ambiental a qualquer preço.

Bello afirmou que inexistir qualquer sinalização de boicote ao couro brasileiro. Segundo ele, o importador entrou em contato com o CICB tranquilizou a entidade acerca da manutenção das compras, cobrando apenas “esclarecimentos adicionais” sobre a origem e rastreabilidade do produto.

Segundo o presidente da CICB, o couro brasileiro é submetido a processo de rastreabilidade e controle, operação auditada por organismo internacional. “Diante desses questionamentos, concedemos ainda garantias adicionais aos compradores quanto ao controle e rastreabilidade do couro brasileiro”, declarou o presidente da entidade.

Falar em “erro de pré-avaliação” é querer desdenhar da capacidade de raciocínio da opinião pública, que continua com os pés atrás em relação ao imbróglio envolvendo a Amazônia e o desrespeito ao meio ambiente. Melhor seria se as indústrias filiadas ao CICB fizessem uma avaliação da direção da entidade, pois, aproveitando o tema das queimadas, a desculpa tem cheiro de fumaça.