PIB cresce 0,4% no terceiro trimestre, mas cenário global impede qualquer tipo de comemoração

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro avançou 0,4% no segundo trimestre de 2019 em comparação com os três primeiros meses do ano, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (29/08) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em valores correntes, o PIB (soma de todos os bens e serviços produzidos no país) somou R$ 1,78 trilhão no segundo trimestre. Em relação ao mesmo trimestre de 2018, o avanço foi de 1%. No acumulado dos últimos 12 meses, também houve crescimento de 1%.

A alta de 0,4% entre o primeiro e o segundo trimestre ficou pouco acima do esperado pelos analistas do mercado financeiro, embora ainda aponte fraqueza da economia brasileira neste ano.

O resultado evitou que o País entrasse em recessão técnica, o que ocorre quando o PIB encolhe em dois trimestres seguidos – nos três primeiros meses do ano houve recuo de 0,1%, segundo revisão do IBGE (o dado divulgado em maio havia indicado queda de 0,2%).

De acordo com o órgão, o avanço da economia no período de abril a junho foi puxado, sob a ótica da produção, pelos crescimentos da indústria (0,7%) e do setor de serviços (0,3%). A agropecuária, por sua vez, recuou 0,4% no período.

Na indústria, os principais desempenhos vieram da indústria da transformação (2%) e da construção (1,9%). As indústrias extrativas recuaram 3,8%, e a atividade de eletricidade, gás, água, esgoto e gestão de resíduos caiu 0,7%.

No setor de serviços houve resultados positivos nas atividades imobiliárias (0,7%), comércio (0,7%) e informação e comunicação (0,5%). Por outro lado, tiveram queda os segmentos de administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,6%), transporte, armazenagem e correio (-0,3%) e atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,1%).

Já pela ótica da demanda, o avanço do PIB se deveu principalmente à taxa de investimentos, que cresceu 3,2%, e ao consumo das famílias, que teve alta de 0,3%. Já o consumo do governo teve queda de 1%. As exportações recuaram 1,6%, e as importações cresceram 1%.

O Brasil ainda carrega os efeitos colaterais da última recessão (2015 -2016), quando foram registrados oito trimestres consecutivos de recuo do PIB, com taxas de crescimento fracas nos anos seguintes. A contração no primeiro trimestre de 2019 marcou o primeiro recuo da economia brasileira após dois anos seguidos de recuperação, ainda que a passos lentos.

O PIB cresceu 1,1% tanto em 2017 quanto em 2018. Para este ano, analistas financeiros estimam alta de cerca de 0,8%. Já para 2020, a previsão de crescimento é de 2,1%.


Muita calma

O resultado PIB do segundo trimestre não é motivo para comemorações, já que o cenário econômico dá sinais trocas, muitos dos quais apontando para uma possível piora da situação. Isso porque há sinais claros de desaceleração da economia global, sem contar que a crise da Argentina, que decretou uma moratória disfarçada, deverá, em algum momento, interferir no cenário brasileiro.

Uma piora da economia global significa que as principais Bolsas de Valores ao redor do planeta podem continuar em movimento de queda – deve-se desconsiderar altas pontuais –, fazendo com que a moeda norte-americana se valoriza diante de outras divisas. No caso de esse cenário se confirmar – há chances concretas de isso acontecer – as consequências para a economia brasileira seriam negativas.

Para piorar o que não era animador, a situação dos Estados Unidos começa a se deteriorar, pelo menos na visão dos investidores, que analisam alguns dados que de fato preocupam. A guerra comercial entre Washington e Pequim pode produzir resultados inesperados. Afinal, o presidente Donald Trump, que está de olho na reeleição, sempre busca um factoide para desviar a atenção da opinião pública local.

Não obstante, a dívida norte-americana cresce de maneira preocupante, enquanto a curva de taxas de títulos públicos do país se inverteu. Os títulos de longo prazo (dez anos) têm, no momento, taxa menor que os de curto prazo (três meses). Essa inversão começou em maio passado e cresceu nas últimas duas semanas. É a primeira vez que esse movimento acontece desde a crise financeira global de 2008.

Diante desse quadro, não é errado concluir que os investidores estão inseguros em relação ao futuro dos EUA. Quando algum tipo de incerteza passa a ser constante na seara dos investimentos, a compra de títulos da dívida américa aumenta, elevando os preços desses papeis, ao mesmo tempo em que empurra as taxas de juro para baixo.

Em suma, diante desse quebra-cabeças, um título da dívida dos EUA de prazo mais longo deve pagar taxa maior do que um de prazo mais curto. Isso porque aumenta o risco para investimentos de longo prazo. Com isso, a dívida pública na terra do Tio Sam deverá aumentar.