Espelhando-se em Jair Bolsonaro, alguns integrantes do primeiro escalão do governo agem como se fossem patriotas, mas na verdade comportam-se como párias à sombra do esbulho da honra alheia. Diante do viés picaresco do presidente da República, assessores mais próximos resolveram adotar a postura circense como forma de manter intacta uma horda de seguidores que aos poucos começa a apresentar rachaduras.
Sem ter mostrado, até então, a que veio, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou ser engraçado diante de empresários, durante evento na capital cearense, e afirmou que a primeira-dama francesa “é feia mesmo”. Embalados pelo aulicismo bandoleiro, empresários gargalharam e aplaudiram o ministro, como se endossassem a deselegância oficial. A declaração de Guedes foi uma reticencia da verborragia destrambelhada do presidente da República.
Guedes deveria se preocupar com a paralisia econômica que tira o sono dos brasileiros, em vez de dar vazão a pensamentos toscos que comprometem a situação do Brasil no cenário internacional. Acreditando que é dono de veia humorística, o ministro poderia poupar a parcela de bem da população de vexames dessa ordem. Além disso, o ministro ajudaria sobremaneira se revesse seu conceito de beleza, até porque a família do ministro não é um ajuntamento de reedições de Apolos e Nefertitis.
Alcançado pela repercussão negativa de sua insana fala, Paulo Guedes não demorou a pedir desculpas pela falta de cavalheirismo, o que encontra explicação no histrionismo dos incompetentes. Guedes afirmou que tudo não passou de uma brincadeira, usada para demonstrar que a sociedade perde tempo com assuntos pouco importantes, quando deveria acompanhar os avanços econômicos proporcionados pelo governo. Se atacar a esposa de um chefe de Estado, por questões pessoais, é alfo sem importância, que o titular da Economia explique o que é importante.
Em nota, o Ministério da Economia justificou, sem convencer, a atitude do titular da Economia: “O ministro Paulo Guedes pede desculpas pela brincadeira feita hoje em evento público em Fortaleza (CE), quando mencionou a primeira-dama francesa, Brigitte Macron”.
“A intenção do ministro foi ilustrar que questões relevantes e urgentes para o País não têm o espaço que deveriam no debate público. Não houve qualquer intenção de proferir ofensas pessoais”, destacou o comunicado.
A nova troça com Brigitte Macron – é a segunda em poucos dias (a primeira ficou a cargo de Bolsonaro) – foi uma estultice desnecessária, com o claro objetivo de ofender pessoalmente a esposa do presidente francês, mas pior ainda foi a justificativa, pois evidenciou a delinquência intelectual do ministro da Economia, que na condição de um dos pilares do governo poderia ser mais comedido. Em meio ao novo imbróglio, o melhor que Guedes poderia fazer era pedir desculpas e reconhecer o erro.
No momento em que tenta explicar o inexplicável, Paulo Guedes revela, novamente, a carga de covardia que existe no seio do governo, que ao mesmo tempo em que tenta impor vontades e decisões que remetem ao retrocesso e ao obscurantismo, oferece às hostes bolsonaristas mais alguns momentos de delírio explícito.
Muito pior e mais preocupante do que o comportamento questionável de integrantes do governo Bolsonaro é a sabujice dos apoiadores do presidente, que endossam práticas que atentam contra a lógica e comprometem o País.