Essencial à existência humana, até porque a convivência entre os homens é um ato político contínuo por excelência, mesmo que não se perceba, a atividade política só mira os interesses do cidadão por ocasião das eleições, quando aqueles que sonham em ingressar nessa seara – ou almejam nela permanecer – recorrem ao proselitismo barato para ludibriar a opinião pública.
Nos últimos tempos, com as disputas ideológicas e partidárias cada vez mais acirradas, o termo “governabilidade” ganhou destaque no cotidiano para explicar os inexplicáveis conluios entre políticos e governantes. Mas esse compadrio tem curta duração, pois a cada dois anos ocorrem eleições no Brasil.
Não obstante, o radicalismo que avança sobre o terreno político tem levado muitas pessoas a mostrarem suas garras e entranhas muito antes do tempo. Avesso a críticas, o que revela sua nefasta essência – meio autárquica, meio ditatorial –, o presidente Jair Bolsonaro, que continua em campanha, dispensa o diálogo e passa para as vias de fato.
Alvo de críticas do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o presidente determinou ao PSL que desembarque imediatamente da base de apoio à administração fluminense. Que o exercício da política depende de acordos e coalizões todos sabem, mas que ninguém pense que o rompimento do PSL com Witzel é por razões ideológicas ou por causa das críticas a Bolsonaro.
Em jogo nessa encenação típica de tiranete está o interesse da família Bolsonaro nas eleições municipais do próximo, assim como também nas eleições de 2022, quando o presidente da República concorrerá à reeleição, enquanto seus filhos poderão ganhar espaço política indicando candidatos a governos estaduais e aos Legislativos fluminense e federal.
Em um país que tem perto de três dúzias de partidos políticos, definir correntes ideológicas é obra do achismo. Na verdade, no Brasil a ideologia dominante é a do interesse pessoal, o que leva a esse punha de agremiações que se engalfinham por poder, cargos e verbas públicas.
Presidente do PSL no Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro, cumprindo ordens do pai, determinou que deputados estaduais filiados ao partido deixem a base de apoio a Witzel, sob pena de serem obrigados a deixar a legenda.
“Aqueles que quiserem permanecer devem pedir desfiliação partidária. Nossa oposição não será ao Estado do Rio, mas ao projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel”, afirmou o senador.
No tabuleiro desse enxadrismo político, sempre emoldurado por covardia e sordidez, os desdobramentos são imprevisíveis, mas é possível imaginar o que poderá acontecer caso prevaleça a ordem da família Bolsonaro.
Ex-deputado estadual, Flávio Bolsonaro está no olho do escândalo que tem Fabrício Queiroz na proa, mas traz de roldão alguns milicianos, assunto que assusta sobremaneira a família presidencial. Se eventualmente Witzel aceitar o jogo político e determinar reforço nas investigações sobre o caso Queiroz, o cenário muda em questão de horas.
A persistir essa queda de braços, Flávio Bolsonaro sairá perdendo, pois Witzel, que tem estilo semelhante ao do presidente da República, vez por outra se desvencilha dos rompantes de estupidez. Sem contar que o governador do Rio de Janeiro leva vantagem em termos de intelectualidade jurídica, já que é ex-juiz federal.
A persistir essa queda de braços, Flávio Bolsonaro sairá perdendo, pois Witzel, que tem estilo semelhante ao do presidente da República, vez por outra se desvencilha dos rompantes de estupidez. Sem contar que o governador do Rio de Janeiro leva vantagem em termos de intelectualidade jurídica, já que é juiz federal.
Além disso, essa anunciada divisão da centro-direita poderá ser aproveitada pela esquerda, que ainda não conseguiu se reinventar depois da derrocada petista nas urnas. Se no campo da solidariedade impere a teoria de que quanto mais se divide, mais se multiplica, no mundo político o script é inverso.