Crente que é o último dos gênios, Bolsonaro diz que não foi à ONU para “falar abobrinha” e “enxugar gelo”

Não basta ser néscio, é preciso acreditar que, apesar do despreparo e da incompetência, é o último gênio da raça. Assim pensa o presidente Jair Bolsonaro, que, em mais um momento de delírio direitista, classificou seu discurso na 74ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira (24), como um primor em termos de conteúdo e mensagem.

Bolsonaro, que foi a Nova York para falar apenas para seu colérico e descontrolado grupo de apoiadores, disse, em evento palaciano, que seu discurso não foi agressivo, mas patriótico. E emendou afirmando que não foi à ONU para ser aplaudido, como, segundo ele, fizeram seus antecessores.

“Queriam alguém lá que fosse para falar abobrinha, enxugar gelo e passar o pano?”, perguntou Bolsonaro aos apoiadores que compareceram ao Palácio do Planalto para mais um momento de bajulação explícita.

“Não fui ofensivo com ninguém. Assisti ao que eu falei, seria muito mais cômodo eu fazer um discurso para ser aplaudido, mas não teria coragem de olhar para a cara de vocês aqui”, completou o presidente, que continua apostando no revanchismo ideológico, no radicalismo direitista e no discurso de ódio.


“Foi um discurso patriótico, diferente de outros presidentes que me antecederam, que iam lá para ser aplaudidos e nada além disso”, ressaltou Bolsonaro, em mais uma demonstração clara e inequívoca de que continua no palanque eleitoral, de onde deveria ter saído em 28 de outubro de 2018, e que não abandonará a radicalização tão cedo. E os brasileiros que se preparem, pois os efeitos colaterais desse comportamento não demorarão a surgir.

Que o pensamento de Jair Bolsonaro é desconexo todos sabem, mas seu discurso na ONU foi um amontoado de sandices que envergonhou a parcela de bem da população brasileira. Não se pode aceitar a fala de um presidente que condena o globalismo, como se o isolamento comercial e diplomático fosse a solução derradeira para os problemas nacionais, mas ao mesmo tempo diz que o Brasil está aberto a negócios com todos os países.

Quando Bolsonaro estava em campanha, no ano passado, o UCHO.INFO afirmava ser o então candidato desprovido de estofo para um cargo de tamanha relevância e responsabilidade. Também afirmamos que era preciso, naquela eleição presidencial, votar a favor do Brasil, não contra determinados partidos ou candidatos. A reação da horda bolsonarista foi, como ainda é, a de nos acusar de torcer contra o País.

Passados nove meses de um governo que ainda não mostrou a que veio, Jair Bolsonaro insiste na tese de que discursos insossos e apasquinados são capazes de anestesiar a consciência do cidadão.

No momento em que o Brasil precisa abrir os horizontes para retomar o crescimento econômico, Bolsonaro ocupa a tribuna da Assembleia-Geral da ONU para exaltar a ditadura militar, condenar a esquerda, dar de ombros para a crise ambiental e afrontar parceiros comerciais. Se isso não é irresponsabilidade, que alguém explique o que é.