Ricardo Salles é alvo de protesto em Berlim; manifestações atrapalham agenda do ministro do Meio Ambiente

(C
(C. Neher – DW)

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi alvo de protesto em Berlim nesta segunda-feira (30). Dezenas de ativistas do braço alemão do Greenpeace organizaram uma manifestação em frente à sede da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), no centro da capital alemã, contra a visita do brasileiro.

Cerca de 50 manifestantes segurando bandeiras do Brasil e da Alemanha montaram um cordão de isolamento em frente ao prédio a fim de impedir a entrada de Salles.

Eles também estenderam uma faixa na fachada com a frase “Sem acordos com criminosos do clima”, em referência ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), e exibiram o tronco de uma árvore em chamas, com a inscrição “Não destruam a Amazônia”. Os ativistas ainda ancoraram um barco no Rio Spree, que passa ao lado da sede da confederação.

“A mudança climática é um problema global. A agenda do governo Bolsonaro em relação ao clima tem sido a favor do lobby do agronegócio, mas a destruição da Amazônia é algo que coloca todos no planeta em perigo”, disse Jannes Stoppel, representante do Greenpeace Jannes Stoppel.

Inicialmente, uma agenda de Salles – vazada na última semana pelo Greenpeace – indicava que o ministro se reuniria no local com representantes de grandes indústrias alemãs, entre elas as gigantes do setor químico Basf e Bayer, conhecidas pela produção de agrotóxicos.

No entanto, Ricardo Salles não chegou a comparecer a qualquer encontro no local nesta segunda-feira. Apesar de a agenda vazada indicar uma reunião, nada chegou a ser oficialmente acertado com o ministro no local, segundo representantes da DIHK.


Há dias, Salles iniciou turnê pelos Estados Unidos, França e Alemanha para tentar reverter o derretimento da imagem do Brasil e do governo do presidente Jair Bolsonaro no exterior por causa da péssima repercussão das queimadas e do aumento do desmatamento na Amazônia.

Contudo, o Ministério do Meio Ambiente tem evitado divulgar antecipadamente a programação do ministro. Salles chegou a Berlim no domingo (29), mas sua agenda no site da pasta não indica nenhum compromisso na capital pelos próximos três dias. O ministro deve deixar a Alemanha na quarta-feira e seguir para o Reino Unido.

Apesar de sua agenda pública parecer vazia, Salles deve se reunir na terça-feira à tarde com Svenja Schulze, ministra do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha. A reunião foi confirmada pela pasta alemã.

Em agosto, Schulze determinou a suspensão de repasses da sua pasta no valor de R$ 155 milhões para projetos de preservação no Brasil em reação às ações do governo Bolsonaro na área ambiental. Na ocasião, a suspensão do repasse provocou uma reação agressiva do presidente brasileiro, que declarou: “Ela [Alemanha] não vai mais comprar a Amazônia, vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso”. Diante da resposta de Bolsonaro, Schulze reagiu: “Isso mostra que estamos fazendo exatamente a coisa certa”.

Apesar dos acontecimentos desta segunda-feira, está mantido, por enquanto, o encontro entre Salles e o ministro Gerd Müller, da pasta para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha. O governo brasileiro também vem travando uma queda de braço com esse ministério, desta vez relacionada ao futuro do Fundo Amazônia, o programa bilionário de proteção à floresta que conta com recursos da Noruega e da Alemanha.

No primeiro semestre, Ricardo Salles promoveu uma série de mudanças unilaterais na gestão do programa, incluindo a extinção de dois comitês, o que contrariou os alemães e os noruegueses. Os dois países europeus também se posicionaram contra uma proposta do ministro brasileiro de usar recursos do fundo para indenizar fazendeiros que ocupam áreas de proteção ambiental, e rechaçaram publicamente insinuações de Salles sobre supostas fraudes na gestão do programa.

Salles ainda tem programado em Berlim encontros com a imprensa alemã, incluindo o jornal conservador “Frankfurter Allgemeine Zeitung”. Na última semana, na etapa francesa do giro internacional, o ministro evitou falar com a imprensa brasileira, preferindo conceder entrevista ao diário conservador francês “Le Figaro”. Na ocasião, ele também foi alvo de protesto em Paris, e sua agenda não incluiu nenhum encontro com autoridades francesas. (Com Deutsche Welle)